Lançamento online da terceira edição do Observatório Suíno traz debate de especialistas convidadas

Webinar abordou temas de saúde única e sustentabilidade relacionados ao bem-estar de suínos

Com o objetivo debater os principais resultados obtidos na 3a edição do relatório Observatório Suíno, a Alianima — organização que atua na proteção animal e ambiental — realizou um webinar em seu canal no Youtube com participação de profissionais do setor.

No evento, disponível no canal da Alianima, além da divulgação dos dados coletados no relatório, a presidente e diretora técnica da organização, Patrycia Sato, falou, junto com a veterinária e gestora de boas práticas e bem-estar animal da Agroceres PIC, Juliana Ribas, e a doutora em Zoologia e diretora do Welfare Footprint Project, Cynthia Schuck, sobre os avanços e os gargalos da indústria suína ao longo do ano e as perspectivas futuras.

Conforme aponta o Observatório Suíno, o banimento das celas de gestação das porcas e a migração para baias em grupo ainda é visto por alguns produtores com certa resistência, devido ao receio da queda na produtividade, ponto que foi refutado por Sato. “A produtividade nas baias em grupo pode ser tão boa quanto ou até melhor, apesar dos desafios naturais na fase de adaptação, que leva tempo. As novas alternativas precisam de pesquisas”, destacou.

Nesta edição do relatório, 23 empresas foram abordadas, sendo sete fornecedoras e 16 clientes, entre restaurantes e varejistas, nove deles pela primeira vez sendo abordados pelo Observatório Suíno.

Sato ressaltou, ainda, a importância da consciência do consumidor final a respeito de todo esse processo, já que toda a cadeia depende dele. “O consumidor pode exigir transparência dos fornecedores sobre o bem-estar animal. Usar as redes sociais para isso, indagar, aproveitar a preocupação das empresas com a reputação corporativa”, sugere.

“O Observatório Suíno é importante não apenas para acompanharmos a evolução da indústria, mas também ressaltar a extrema relevância da imagem da suinocultura brasileira no cenário global. Bem-estar animal tem sido um tópico de crescente demanda de mercado internacional”, afirma Patrycia Sato. Para a veterinária Juliana Ribas, doutoranda em comportamento e bem-estar animal e gestora de Boas Práticas na Agroceres PIC, o comportamento do consumidor está mudando ao redor do mundo de um modo geral, e isso pode ser percebido inclusive pelos termos pesquisados no Google em 2021. “Termos como Meio Ambiente, Como Conservar, Impacto nas Mudanças Climáticas e Sustentabilidade aparecem em pesquisas com muito mais frequência e essa é uma tendência global. Isso nos mostra uma mudança no comportamento desse consumidor”, aponta.

No ano de 2022, segundo Ribas, houve uma tendência forte em que 67% dos consumidores tentaram, no ano de 2021, ter um impacto positivo, ao correlacionar seus hábitos de consumo com a sustentabilidade ambiental e a redução da pegada de carbono. “O bem-estar animal está, de alguma forma, ligado a praticamente todos os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU e à manutenção dos processos em busca da redução da pegada de carbono”, completa.

De acordo com a doutora em Zoologia, Cynthia Schuck, a prática do bem-estar animal nas empresas está diretamente relacionada à competitividade e à sustentabilidade do negócio, inclusive no âmbito internacional. “Na União Europeia estão discutindo que acordos só possam ser feitos se existir uma equivalência da legislação europeia em termos de bem-estar animal, com a legislação dos países que vão exportar a carne para a União Europeia, por exemplo. Então, se essas empresas não praticarem políticas de bem-estar animal, cria-se um problema de competitividade para os produtores de lá que investiram nessas reestruturações”, explica, acrescentando que empresas brasileiras podem ter dificuldades de exportar para outros países que não aderirem a essas práticas.

Uso de antimicrobianos

Outro dado importante apresentado trata do uso não terapêutico de antimicrobianos, prática em que se percebeu um melhoramento expressivo, de acordo com as respostas dos fornecedores, especialmente como promotores de crescimento. “A redução do uso de antibióticos na criação de suínos, reportada pela maioria das empresas, foi um resultado bastante positivo. É preciso minimizar os riscos de surgimento de superbactérias, que afetam também a saúde humana. Ainda é crucial para a Saúde Única que alternativas eficazes sejam desenvolvidas e implantadas com a finalidade de reduzir o uso desses fármacos, de modo que fiquem restritos somente ao tratamento de doenças diagnosticadas (uso terapêutico), não apenas na suinocultura, mas em toda a produção animal” , ressalta Cynthia Schuck.

Entraves financeiros protelam avanços

Um dos aspectos pontuados no relatório diz respeito aos entraves financeiros que limitam os avanços propostos pelo Observatório. As empresas abordadas destacam a importância de haver incentivos, como linhas de crédito e subsídios, de modo que seja possível estimular e viabilizar a implementação de melhorias na suinocultura.

No questionário, quando indagadas sobre a existência de dificuldades para prosseguir com a transição para alojamento coletivo, metade das empresas alegou enfrentar problemas como o alto custo do produto pelos fornecedores, a falta de disponibilidade de fornecedores que atendam às exigências, além da falta de conhecimento sobre o tema, bem como dificuldades de rastreabilidade na cadeia.

Fonte:  Alianima