Mais colostro e imunidade para os leitões. Como?

Por Mara Costa, gerente de Serviços Técnicos Suínos da Kemin Nutrição e Saúde Animal na América do Sul

Dentre as estratégias para aumentar a produção e melhorar a composição do colostro, os Beta-glucanos de algas, quando fornecido na fase final de gestação e durante a lactação, promoveu maior produção de colostro e maior consumo pelos leitões, promovendo maior ganho de peso nas primeiras horas após o nascimento.

A produção e a ingestão de colostro se tornaram um desafio na produção de suínos. O grande número de leitões nascidos supera o número de tetos, e a necessidade de leitões mais saudáveis para melhor performance com menor uso de antibióticos nas fases seguintes fazem o tema ser fonte de atenção e investimento na busca de maior rentabilidade.

A produção do colostro se inicia momentos antes do parto e tem duração média de 12 a 24 horas, sendo a fonte primária de nutrientes, imunidade e fatores de desenvolvimento para o trato gastrointestinal. Como os leitões nascem com baixa reserva energética, é essencial garantir que todos os leitões tenham uma ingestão mínima de 250 gramas de colostro, reduzindo o risco de mortalidade por hipotermia e hipoglicemia e fornecendo a imunidade necessária. O baixo consumo de colostro está associado com as altas taxas de mortalidade nas primeiras 72 horas.

Existe grande variação na produção e composição do colostro (1 a 6 kg, sendo a média de 3,5 kg/matriz). A produção e composição tem fatores ligados à matriz como status endócrino, nutricional, imune e níveis de estresse e a características da leitegada. A produção não está associada com o número de leitões nascidos vivos, e sim, com a habilidade inicial dos leitões nas primeiras mamadas e a menor variabilidade de peso ao nascimento, pois os leitões que conseguem mamar colostro, têm acesso à fonte de nutriente e mais agilidade para continuar com a mamada, estimulando a matriz na produção. A ordem de parto é um fator que influencia a produção: matrizes de primeiro e segundo parto apresentam baixa produção tanto em quantidade como qualidade na questão de imunidade (imunoglobulinas).

Os suínos apresentam placenta epiteliocorial difusa, em que não há passagem de imunidade entre as matrizes e leitões via placenta, sendo o colostro fonte única de imunidade inata. A IgG é a principal imunoglobulina presente no colostro e é responsável pela imunidade sistêmica, sua concentração máxima no colostro ocorre 6 horas após o parto, e 12 horas após o parto já cai para 50%. A IgA, responsável pela proteção de mucosa, está presente no colostro e no leite e garantem proteção ao animal nas fases seguintes.

Maior produção de colostro: é possível?

Dentre as estratégias nutricionais desenvolvidas e avaliadas, o aumento na gordura e imunoglobulinas foram as que tiveram mais sucesso, por serem mais sensíveis às mudanças nutricionais. Na busca por aumento na quantidade, foram avaliados níveis e fontes de energia sendo verificado que a condição corporal da matriz na entrada da lactação tem mais impacto na produção que os níveis nutricionais avaliados na pré lactação. Tipos de fibras dietéticas mostraram sucesso no aumento de ingestão de colostro em leitões de baixo peso ao nascimento e podem estar associados à sua maior produção, entretanto os pesquisadores afirmam a necessidades de mais estudos para conhecer seu modo de ação. E entre os aditivos, quando fornecidos na fase final de gestação e lactação, os beta-glucanos apresentaram sucesso no aumento da produção de colostro.

Qual a fonte dos Beta-glucanos?

Beta-glucanos são polissacarídeos não amiláceos que compõe a estrutura das paredes celulares de bactérias, leveduras, algas e cereais e conforme a fonte, os Beta-glucanos têm diferentes estruturas. Os Beta-glucanos de leveduras apresentam cadeia lineares com ligações 1,3 e 1,6. Grãos como trigo, aveia e cevada contêm uma forma de Beta-glucano com ligações 1,3 e 1,4 alternadas e os Beta-glucanos de algas (BG ALGA), cadeias lineares com ligações 1,3. A diferença na estrutura, tamanho e grau de ramificação diferencia a solubilidade, ação e benefício na nutrição animal, principalmente sobre a regulação do sistema imune.

Os Beta-glucanos das algas, com cadeia linear e menores, são mais facilmente fagocitados pelos macrófagos e células dendríticas. Pois estes apresentam receptores que se ligam especificamente na posição 1,3 do Beta-glucanos, ou seja, os Beta-glucanos 1,3 têm mais ação por apenas possuir essa cadeia, que os Beta-glucanos 1,3 e 1,6. Ao comparar o efeito dos Beta-glucanos de diferentes fontes sobre a ativação de células imunes de suínos, foi verificado que os beta-glucanos de algas foram os que tiveram ação mais consistente, pois tinham maior ação conforme a concentração aumentava, enquanto os Beta glucanos de levedura em baixa concentração não apresentavam efeito, e em concentrações mais alta tiveram efeito citotóxico, segundo os autores do trabalho.

Beta-glucanos de algas e seus benefícios na produção de colostro

Os Beta-glucanos de algas apresentam maior ação imune, com maior produção de macrófagos e células dendríticas, porém, com maior produção de citocinas anti-inflamatórias, que permite o animal estar melhor preparado imunologicamente para o desafio e/ou estresse com menor gasto energético.

Ao avaliar o efeito dos Beta-glucanos de algas em matrizes nas fases de pré lactação e lactação, não foi observado diferença (p>0.05) no número de leitões nascidos, nascidos vivos e peso no nascimento. Contudo, foi verificado efeito sobre a produção de colostro, com maior produção nas matrizes que receberam os Beta-glucanos de algas (p<0.05), possibilitando maior ingestão de colostro pelos leitões (p<0.06), e consequentemente maior ganho de peso em leitões 18 horas após o parto (p<0.05) demonstrados nos Gráficos 1 e 2.

Os Beta-glucanos de algas tiveram ação também sobre a concentração de imunoglobulinas no colostro, promovendo maior produção de IgG, IgA e IgM com 18 horas após o parto, e consequentemente, aumento da concentração sérica dessas imunoglobulinas nos leitões das matrizes avaliadas aos 4 dias de idade (Gráfico 3 e 4).

A fase de creche é uma fase de alto desafio, o consumo do colostro tem grande reflexo sobre a performance e suporte ao desafio nesta fase.

Observou-se menor concentração de hepatoglobina em leitões de 42 dias de matrizes suplementadas com Beta-glucanos de algas durante a pré-lactação e a lactação, indicando menor inflamação com menor custo energético para o animal e maior contração de IgA, indicando maior proteção de mucosa, já que este é um marcador para verificar a saúde intestinal em leitões.

Conclusão

O consumo de colostro é essencial para os leitões como fonte de nutrientes e imunidade. A produção tem relação com fatores ligados a matriz e com peso da leitegada ao nascimento e sua viabilidade. O período de maior desafio da vida dos leitões é a fase de creche, e assim como o peso ao desmame, o status imune é crucial para a performance futura e sobrevivência. Dentre as estratégias para aumentar a produção e melhorar a composição do colostro, os Beta-glucanos de algas, quando fornecido na fase final de gestação e durante a lactação, promoveu maior produção de colostro e maior consumo pelos leitões, promovendo maior ganho de peso nas primeiras horas após o nascimento. O uso de Beta-glucanos de algas nas matrizes também promove melhor saúde intestinal e imunidade na fase de creche.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato via: [email protected].

Fonte: Alfapress Comunicações