Manejo do pastejo e braquiaria híbrida reduzem a pegada de carbono da pecuária

Pasto bem manejado diminui a emissão de metano em 30%, já cultivares superiores conseguem fixar até 50% mais carbono por produzirem mais massa seca

A pecuária atual já conta com as ferramentas necessárias para reduzir a pegada de carbono, que é o total de emissão de gases de efeito estufa (GEEs).

Também chamado de descarbonização, esse processo de redução de carbono na atmosfera vem sendo debatido no universo da pecuária e foi tema do 1º Seminário Zebu Carbono Neutro – Pecuária Sustentável Gerando Riquezas, uma das atrações da 88ª ExpoZebu, que é realizada até o dia 07 de maio em Uberaba (MG) (leia mais sobre o evento aqui).

Mas quais são essas ferramentas em favor da descarbonização na pecuária?

Segundo Edson José de Castro Júnior, coordenador técnico da Wolf Sementes, há dois temas que atendem a essa meta.

“Primeiramente precisamos abordar o manejo adequado do pasto”, explica. “Um pasto bem manejado tem capacidade de fornecer ao animal um alimento de mais qualidade nutricional, ao respeitar aspectos morfológicos da planta e levando em consideração que o animal é um selecionador de plantas para a sua alimentação”, afirma o especialista.

Segundo estudos da Embrapa Pecuária Sul (leia aqui), o animal em um pasto bem manejado por altura correta emite 30% a menos de metano que é o gás é emitido pelos bovinos devido à fermentação entérica que ocorre no processo digestivo dos animais. Junto com o gás carbônico (CO2) e do óxido nitroso (N2O) o metano é um dos responsáveis pelo efeito estufa.

“Se não executamos o manejo adequado (independente do sistema ser rotativo ou contínuo), permitimos, por exemplo, que o animal coma um alimento com menor qualidade nutricional, com mais talo e menos folhas. Devido a estes fatores do mal manejo do pasto, será emitido mais metano, comparado a uma pastagem bem manejada por altura”, explica Edson Costa Junior.

“Uma vez adequado esse manejo, o pecuarista, além de conseguir dar o melhor da forrageira ao seu rebanho, obterá melhor resultado econômico e ambiental”, emenda.

Segunda estratégia rumo à descarbonização da pecuária: cultivares

As variedades mais tolerantes a estresses ambientais e com maior potencial de produção de massa são as que oferecem ao produtor maior rentabilidade econômica e ambiental. “Quanto maior o potencial de produção de massa da cultivar ou híbrido, maior o potencial de fixação do carbono da atmosfera e convertido, ou em matéria orgânica ou em produto para a alimentação animal”, explica Edson Castro Junior.

Um dos híbridos de brachiaria disponíveis no mercado, o Mavuno, produzido pela Wolf Sementes, se destaca justamente pela produção de massa seca ao ano de 30 a 50% superior ao Marandu, cultivar que atualmente é a mais plantada do Brasil, presente em mais de 40% das pastagens.

E os investimentos necessários?

“Uma vez bem manejado o pasto, que é uma boa prática para se aplicar no dia a dia da fazenda, o próximo passo é investir em tecnologia, obter um material com alto potencial produtivo”, relata o coordenador técnico da Wolf.

“O pecuarista irá utilizar elementos que possui já dentro da propriedade, muitas vezes sem fazer investimento na aquisição de insumos ou em infraestrutura. Terá, por exemplo, de dimensionar quanto colocará de gado em cada piquete e, consequentemente, movimentar os animais entre esses piquetes de acordo com a produção da forrageira respeitando o crescimento dela”, diz.

As práticas corretas fazem com que a forrageira fixe mais carbono na produção de massa seca. “Com isso, se cria também possibilidade para o mercado de carbono”, destaca, lembrando que o mercado potencial de carbono da pecuária é gigantesco diante a comparação com a agricultura.

Já no caso das cultivares mais produtivas, o retorno vem rápido. “O investimento em brachiarias mais tolerantes a adversidades como o Híbrido Mavuno, adequadamente manejadas, entrega retorno ao pecuarista na mesma safra”.

Enfim, ele destaca: o que o produtor rural necessita executar práticas que já foram solucionadas pela ciência há vários anos e já estão sendo executadas em campo em diversas propriedades.

“A ciência não está distante do que acontece da realidade na ‘porteira para dentro’. Basta o produtor querer, se capacitar e colocar o conhecimento em prática”, afirma.

Fonte: Delcy Mac Cruz