Mãos vazias.

O final de tarde, na aldeia do pequeno órfão Natanael, foi abalado pela chegada de uma caravana de camelos, ricamente ornados. Com pesadas cargas, eram montados por verdadeiros reis da Pérsia. Buscaram um local de descanso. Natanael, pastor de ovelhas alheias, ajudou-os a montar acampamento e a cuidar dos camelos.

Curiosos aproximaram-se. Deles escutaram histórias maravilhosas. Por estarem despertos à noite, ouviram a voz oracular dos céus, o anúncio do nascimento de um novo rei. Por seus cálculos matemáticos, combinados à observação de uma estrela guia, foram orientados a caminhar do Oriente à Judeia. Os aldeões duvidavam desses relatos. Inventados para dissimular seus reais propósitos, diziam. Natanael, não.

Seu destino estava próximo: a aldeia conhecida como Casa do Pão, a Beit Lehém ou Belém, a um dia de viagem. Ali encontrariam o futuro rei, recém-nascido. Com muitos compromissos, trabalhos e afazeres, todos retiram-se ao anoitecer com sorrisos incrédulos. Natanael, não. Dormiu próximo aos camelos.

Ao amanhecer, o menino, miserável e faminto, decidiu segui-los a distância. Dissimulado entre arbustos, caminhando entre pedras e escalando colinas, Natanael os seguiu até o anoitecer, quando a estrela guia surgiu e pairou sobre um estábulo. Muitas pessoas se aproximavam, vindas de todas as partes, com presentes nas mãos para entregar ao recém-nascido.

Os magos do Oriente entraram com seus presentes magníficos. Natanael os acompanhou. Ficou maravilhado com a luz emanando do bebe, nos braços da mãe, no fundo o estábulo. A mulher levantou-se para receber as visitas e suas oferendas. Natanael percebeu constrangido: estava de mãos vazias. Era o único, entre todos, a não trazer nada. Nem mesmo uma florzinha dos campos.

Envergonhado pensou em retirar-se. Não teve tempo. Maria, olhou para todos, para tantas mãos e tantos presentes. Para poder recebe-los, dirigiu-se primeiro a Natanael. Por ser o único de mãos vazias, confiou-lhe o Menino Jesus.

Fonte: Evaristo de Miranda