“Não há precedente histórico no mundo para o caso da China e a peste suína africana”, pondera doutor em economia aplicada

Não há precedente histórico no mundo para o que está ocorrendo com a peste suína africana (PSA) que atingiu a China. Este foi o alerta apresentado pelo doutor em economia aplicada e professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), Alexandre Mendonça de Barros, durante a primeira edição do encontro “Perspectivas do Agronegócio na Nova Macroeconomia Brasileira e Internacional”, que ocorreu nesta sexta-feira (14.06), em Cuiabá (MT).

Mais de 200 participantes envolvidos com o segmento do agronegócio acompanharam o evento. Promovido pela Fundação Dom Cabral (FDC), Grupo Valure e Grupo ZF, o encontro ofereceu conteúdo de ponta sobre o agronegócio – que é um dos pilares da nossa economia –, bem como proporcionou o intercâmbio de conhecimento e experiências entre as pessoas no evento.

Segundo Alexandre, a PSA traz reflexos diretos para Mato Grosso. “A carne suína é a carne mais consumida no mundo – cerca de 114-115 milhões de toneladas. Esse gigantismo se deve a um país: a China, que produz 54 milhões de toneladas de toneladas. Isso tem uma correlação imensa com Mato Grosso, pois essa carne suína usa farelo de soja e nós somos o maior fornecedor. Qualquer coisa que acontece com o rebanho suíno chinês nos afeta diretamente”.

Alexandre explica que o quadro, além de chacoalhar o mundo, levou a China a consumir menos suínos. “Em algum momento, esse consumo irá retornar. A população vai entender que a doença não afeta os seres humanos. E, com isso, vamos voltar a exportar mais soja. Infelizmente, não há vacina ou droga para controle da doença – apenas o abate – e o vírus sobrevive por um período na carne mesmo após congelamento e cocção, o que resultou no isolamento de regiões”.

Durante a palestra, Alexandre traçou um panorama sobre o cenário macroeconômico. “Estamos com a inflação brasileira extremamente bem – controlada –, cenário de retomada de crescimento com a demanda de consumo voltando, o desemprego caindo, as contas públicas encaminhadas e os insumos mais baratos. Faz-se necessário realizar a Reforma da Previdência. Hoje, ela consome 59% do orçamento do governo. Se nada for feito atingirá 91% até 2030”.

O professor ressaltou que o cenário é otimista para a concretização da reforma, mas não há bola de cristal para prever. “Acreditamos que irá ocorrer uma reforma relativamente forte. No entanto, caso não seja aprovada ou seja aprovada de maneira pouco significativa, a economia seguirá desacelerada e o governo fragilizado. Aliás, é bem provável que na sequência da Reforma da Previdência ocorra a Reforma Tributária”, ponderou.

ENTRAVES E OPORTUNIDADES – O vice-presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), Fernando Cadore, destacou outro ponto relevante nesse cenário brasileiro: o custo do frete. “Metade do custo do produto é frete. Comparado com outros estados, a concorrência é desleal. Em Mato Grosso, por exemplo, precisamos escoar o milho. Ficamos totalmente dependentes da exportação e temos que andar dois mil quilômetros”, comentou.

Diretor executivo da Aprosoja, Wellington Andrade complementou que, para além de avaliar a questão da tributação do cereal, “temos grande potencial de expansão do milho”. Enquanto que o CEO da Agro-Sol Sementes e da Bioline LATAM, Eduardo Dallastra, ressaltou que – diante desses cenários – é preciso ter em mente que “vivemos na era da economia do conhecimento – de absorção e crescimento rápido”.

O presidente da UNEM (União Nacional do Etanol de Milho), Ricardo Tomczyk, reforçou que eventos como este contribuem para tornar a tomada de decisão menos difícil. “Esse panorama global nos deixa muito sedentos por informações relevantes. No caso do etanol, por exemplo, apesar do setor sucroalcooleiro estar procurando oxigênio para respirar, podemos citar que já dobramos a produção do ano passado para esse – algo previsto para acontecer também em 2020”.

Para Wiany Moreira, sócia-diretora da Corretora Prosperidade, representante da XP Investimentos em MT, profissionais ligados ao setor do agronegócio precisam estar antenados também no que diz respeito aos seus investimentos. “A renda ativa tem que gerar renda passiva, que simboliza o ‘futuro’ – aquilo que dará tranquilidade. Mas, para isso, é preciso compreender qual é o momento de vida da pessoa para entender o prazo, entre outros fatores”, sinalizou.

ENCONTRO – Presidente do Grupo Valure, a coach e mentora de gestão Lorena Lacerda salientou que em um momento de incertezas, é preciso compreender as dores e as soluções voltadas para o agronegócio. “Sim, ele é um setor diferente. Precisamos de informações que contribuam com os negócios, com a realidade de cada um e também para o próprio setor”.

Pensamento reiterado pelo gerente de projetos em Agronegócios da FDC, Guilherme Guimarães, que ponderou que a “demanda por programas de educação executiva voltados ao agronegócio tem crescido nos últimos anos. Isso demonstra a força do segmento”.

Fonte: ZF Press