Agrotóxico faz mal? É possível não usá-lo? Veja o resumo que é verdade e mentira no debate

É possível reduzir uso, mas desafio é maior para grandes culturas

Por Reinaldo José Lopes e Gabriel Alves // SÃO CARLOS E SÃO PAULO – respectivamente

A discussão em torno do projeto de lei apelidado de PL 6.299 por ambientalistas acirrou os ânimos entre estes e os ruralistas. No momento, o PL que tramita em regime de prioridade, encontra-se pronto para ser pautado no plenário da Câmara. Em meio à guerra de versões, a Folha traz o que a ciência e os cientistas têm a dizer sobre o tema, em perguntas e respostas.

DEFINIÇÃO

1. Agrotóxico é a mesma coisa que defensivo agrícola e pesticida? Sim. A diferença está relacionada à decisão de enfatizar determinado aspecto com a escolha da palavra. Agrotóxico está correto, já que se trata de substância tóxica usada na agricultura. O mesmo vale para defensivo agrícola, uma vez que o objetivo da aplicação é defender as plantações.

2. Quais são os tipos de agrotóxicos? O que eles fazem? Há uma enorme diversidade de usos e de composição química dessas substâncias. Além da divisão funcional em herbicidas, inseticidas e fungicidas, é possível classificá-los de acordo com seu mecanismo de ação sobre as pragas.

3. O Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo? Brasilocupa a 51ª posição entre 164 países ou territórios analisados com 3,3 kg/ha/ano *Média entre 1990 e 2015, sujeito a disponibilidade de dados Fontes: FAO e Science

AMBIENTE

4. As moléculas dos agrotóxicos são biodegradáveis?Em princípio, são —para serem aprovados hoje, os pesticidas precisam ter um tempo de vida relativamente curto na natureza, numa escala de tempo entre dias e semanas.

5. Pesticidas estão matando as abelhas e outros insetos polinizadores? Ainda não há um veredicto claro. As substâncias que talvez estejam provocando ou potencializando outras causas do colapso de colmeias no hemisfério Norte são os neonicotinoides (como o nome sugere, derivados da nicotina) e as formamidinas.

6. O que acontece com as pragas após o uso constante das substâncias? É comum o aparecimento de superpragas —ervas daninhas e insetos com capacidade de resistir a um ou mais tipos de defensivos agrícolas.

7. Há mesmo vantagem dos agrotóxicos mais modernos em relação aos antigos? Os agrotóxicos mais modernos, explica o engenheiro agrônomo, Otavio Abi Saab, da Universidade Estadual de Londrina, são usados em quantidade menor, além de, nas novas gerações, ter havido ganho de especificidade. Ou seja, os compostos, mesmo com baixa quantidade, tem ação mais intensa contra pragas específicas, prejudicando menos outras espécies.

8. O uso combinado com transgênicos diminui a quantidade de defensivos na lavoura e a resistência das pragas? Os dados a respeito são complicados e contraditórios —a situação varia dependendo do lugar, do tipo de cultivo e da situação regulatória.

9. Supondo que o Brasil ou o mundo parasse de usar agrotóxicos, o que aconteceria ao ambiente? A grande diversidade das substâncias usadas para esse fim e a complexidade das interações entre elas e diversos tipos de seres vivos fazem com que uma resposta precisa e única para essa pergunta seja muito difícil. “Certamente ainda não estamos em terreno seguro sobre esse tema”, diz Heinz Köhler, do Instituto de Evolução e Ecologia da Universidade de Tübingen (Alemanha).

ECONOMIA

10. Quais são os modelos de cultivo que menos precisam de agrotóxicos? Um consenso entre os acadêmicos conhecedores do sistema de produção de alimentos é que não é possível se livrar dos agrotóxicos, especialmente em grandes culturas —o que dá para fazer é minimizar o uso.

11. Qual seria o impacto econômico da proibição dos agrotóxicos? O preço dos alimentos tenderia às alturas, devido à baixa produtividade. Algumas lavouras produziriam menos de um terço da safra convencional.

12. É possível ter o mesmo efeito de proteção contra pragas com menos aplicações dos produtos? Ao menos no curto prazo, não é realista esperar que a agricultura de grande escala no mundo abandone totalmente os agrotóxicos, mas os dados científicos indicam que há bastante espaço para redução e racionalização do uso, bem como para o emprego de estratégias combinadas que não envolvam produtos industrializados.

SAÚDE

13. Quais são as culturas que mais usam agrotóxicos no país? Algodão e cítricos são os campeões no uso das substâncias

14. Quais os efeitos crônicos para a saúde? A discussão sobre esse tema é complexa, porque seria eticamente impossível fazer experimentos controlados com humanos, os resultados obtidos em estudos com animais não podem ser extrapolados facilmente para a nossa espécie e muitos fatores confundem as análises, já que o organismo é exposto a uma série de outros produtos potencialmente tóxicos, de níveis naturais de radiação à fumaça de carros ou de cigarros.

15. Alimentos orgânicos são mais seguros? É muito difícil demonstrar —ou rejeitar— a ideia de que alimentos produzidos por métodos orgânicos são mais seguros para a saúde do que os cultivados com a ajuda de agrotóxicos.

16. Quais os efeitos agudos dos agrotóxicos no corpo? Os sintomas agudos podem variar de acordo com o tipo de substância e afetam majoritariamente aqueles que trabalham ou moram no campo.

17. Agrotóxicos podem causar a morte? Sim, podem —mas essa informação, por si só, não quer dizer muita coisa, já que praticamente todas as substâncias existentes têm uma dose letal. Embora talvez causem uma quantidade substancial de mortes, é preciso considerar as mortes por envenenamento agudo, ou seja, de curto prazo.

Fonte: https://www1-folha-uol-com-br

Texto não foi modificado, apenas usada a primeira parte de cada resposta originalmente publicado em https://www1-folha-uol-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/www1.folha.uol.com.br/amp/ciencia/2018/07/agrotoxico-faz-mal-e-possivel-nao-usa-lo-veja-o-que-e-verdade-e-mentira-no-debate.shtml?amp_js_v=0.1#amp_tf=Fonte%3A%20%251%24s&ampshare=https%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fciencia%2F2018%2F07%2Fagrotoxico-faz-mal-e-possivel-nao-usa-lo-veja-o-que-e-verdade-e-mentira-no-debate.shtml

Crédito Imagem: Domínio Público/Pixabay