O Campo e os Contrastes de 2018

O ano de 2018 foi notável para a produção rural, mas péssimo para o produtor. Num ano eleitoral, o desespero da caça ao voto postergou a resolução de desafios importantes, e fez com que ameaças concretas chegassem muito perto do setor.

Iniciamos 2018 tendo de nos defender contra o ativismo animal (deveria dizer animalesco?) e sua luta contra a exportação de gado em pé, o negócio que literalmente salvou a pecuária gaúcha. Audiências públicas na Assembleia e Câmara dos Deputados, liminar impedindo a partida de um navio turco do Porto de Santos com 27 mil cabeças. No Rio Grande, a voz desse radicalismo pode até voltar à Assembleia Legislativa pela porta dos fundos, mas foi tirada de lá pelo voto.

No ano em que a prioridade era correr atrás do voto, tudo ficou pra depois. Políticos posaram para fotos, fizeram compromissos, mas não colocaram em pauta o Projeto de Lei que estabelecia para o arroz importado as mesmas regras fitossanitárias do produto nacional, nem tampouco o PL que eliminava a dupla tributação imposta pelo Funrural.  Prometeram votar no primeiro semestre, antes das eleições, logo depois das eleições. Ficou na promessa.

A Greve dos Caminhoneiros parecia ser o último ato para derrubar o governo. Mas Temer resistiu, e o combustível até mais caro ficou. O ódio dos movimentos sociais voltou-se contra a modernização da Lei dos Defensivos Agrícolas, apelidada de “Pacote do Veneno” ou “Lei do Agrotóxico”. Ninguém chama os remédios que tomamos de “farmacotóxicos”, mas os “remédios” das lavouras recebem essa depreciação.

A eleição da facada, de Lula preso, o papelão da greve de fome de Frei Sérgio (quem ainda lembra?). A indignação de todas as classes sociais contra a roubalheira derrotou não somente o PT, mas humilhou os “falcões” do tucanato e outras legendas tradicionais enroladas com a Lava-Jato.  A maior onda conservadora das Américas encerra um ciclo de praticamente 25 anos de social-democracia no país, guinando para a liberal-democracia, que deve ser apoiada e vigiada ao mesmo tempo, especialmente quando querem “meter a faca” (olhem ela de novo) no sistema S. O novo ano começa sob o signo das mudanças de 2018, e convém ficar atento aos humores de Rússia, China e países árabes.  Mas sim, é possível ter esperança.  Há apenas cinco anos, nada disso seria possível.  Vamos continuar plantando as sementes deste novo Brasil que queremos, com os olhos no horizonte dos sonhos, mas os pés bem fincados no solo da verdade.

Um feliz 2019 a todos nós!

Tarso Teixeira – Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel/ Vice Presidente da Farsul