Os Ponteiros do Equinócio de Outono

Por Evaristo de Miranda*

O clima nas regiões tropicais é um relógio: chove no verão e o auge da seca é sempre no inverno. E isso independentemente do nível pluviométrico local. O clima tropical não é essa incerteza apregoada por alguns. Ele é sim, muito previsível.

Na zona tropical, o máximo de chuvas segue a passagem do sol pelo zênite. No Brasil, o zênite estival começa no Trópico de Capricórnio no final de dezembro. E chove muito no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro entre dezembro e janeiro. Esse pico de chuvas estivais “sobe” em direção ao norte. Na parte mais central do Brasil, as águas de março fecham o verão.

Em boa parte do Nordeste, as chuvas têm seu máximo na transição para abril. Se até o dia de S. José, 19 de março, véspera do equinócio, não chover, o sertanejo perde a esperança, como na canção Triste Partida, de Luís Gonzaga.

No equinócio de outono, no 20 de março, o sol está a pino ao meio dia sobre o Equador, deixando pessoas, postes e mourões sem sombra. Noite e dia duram precisas 12 horas em qualquer lugar do planeta, mesmo nos polos.
O sol nasce exatamente no ponto cardeal Leste e não apenas a Leste. Idem para o poente, no exato ponto cardeal Oeste. Dia bom para acertar bússolas.

Depois, por 6 meses, o sol estará a pino no hemisfério Norte, deslocando-se para o Trópico de Câncer. O outono, com dias cada vez mais curtos, trará a queda das temperaturas, frentes frias mais potentes e redução das chuvas.

Em 2020, plantio e colheita da soja sofreram atrasos. A semeadura do milho safrinha se estendeu até março, apesar do risco de faltar chuva na floração e formação dos grãos. Os agricultores plantaram milho para uma safra de 82 a 84 milhões de toneladas, se o tempo ajudar

A principal razão é a oportunidade econômica: alta do grão em Chicago, forte demanda, o câmbio favorável e perspectiva de boa rentabilidade. Cerca de 50% desta safrinha já está vendida. Talvez o país atinja 38 a 39 milhões de toneladas de exportação, um novo recorde.

Face à eventual falta de chuva, o milho de quem cuida bem da palhada e do solo terá vantagens: enraizamento profundo, boa armazenagem de água, poucas perdas por escorrimento e evaporação. Tão certo quanto a mudança das estações.

*Evaristo de Miranda é agrônomo, escritor, pesquisador brasileiro da Embrapa e atua nas áreas de ecologia, agricultura, meio ambiente e gestão territorial. É Chefe da Embrapa Territorial