Política ameaça Agro na Argentina

A vitória do chamado “Kirchnerismo” nas eleições presidenciais primárias, realizadas no último domingo (10.08) na Argentina, não provocou pânico apenas nos mercados financeiros, mas também no agronegócio. “Todo o enorme esforço de crescimento do agronegócio havido nos últimos quatro anos parece que vai por água abaixo”, declarou Héctor Huergo, comentarista da secção Rural do Jornal Clarín, de Buenos Aires.

De acordo com ele, foi uma “surpresa enorme” a ressurreição do populismo de esquerda na Argentina: “Embora se esperasse, de certo modo, o resultado, ele assustou a todos. Crescimento da economia aos saltos, com nova onda de tecnologia, enormes investimentos no campo e na indústria, petroquímica, gás e maquinaria, tudo revertido para praticamente nada”.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, alertou para as consequências econômicas de uma eventual vitória da oposição. “Isto é apenas uma mostra do que vai acontecer. Isso é pelo passado, há muita gente que não deixa seu dinheiro neste país, que vai embora deste país. O que pode acontecer é horrível. Venho dizendo isso há três anos e meio. Não podemos voltar ao passado, porque o mundo vê isso como o fim da Argentina. O tema é que o ‘kirchnerismo’ já governou, o mundo conhece o que fez”, declarou Macri em coletiva de imprensa.

A T&F Consultoria Agroeconômica alistou os efeitos devastadores ocorridos nos dois dias úteis após o resultado das primárias:

– Juros subiram para 74%;

– Dólar desvalorizou 16 pontos percentuais. “Mercado de Dólar Blue (Paralelo) freou. Não vendem, só compram”, afirmou o jornalista Luís Vieira, da Engormix;

– Bolsa despencou 30%, algumas ADR já estão no mesmo nível de 2012, quando o Clã Kirchner tomou conta do país;

– Risco país aumentou 80%;

– Inflação subiu 10% nos supermercados  em apenas um dia;

– Negócios do agro estão parados. Não se sabe o preço líquido final nem de quem vende, nem de quem compra, com medo da volta das retenciones (impostos sobre exportações);

– Negócios de trigo de safra nova estão trancados, totalmente paralisados. Os agricultores argentinos já tinham negociado cerca de 3,5 milhões de toneladas da safra nova;

“Com isto, pelo menos enquanto não se esclarece melhor a situação, parece que poderá aumentar a demanda sobre o trigo paraguaio, uruguaio e gaúcho, além do americano e talvez até russo. O mercado não espera as coisas acontecerem, se posiciona antes, mesmo que depois desfaça estas posições, porque o importante é se precaver”, conclui o analista da T&F, Luiz Pacheco.

Fonte: Agrolink Por Leonardo Gottems