Produção e segurança alimentar são temas de palestra ministrada pelo presidente da Faeg

Diante da crise econômica pela qual o país vem passando e do bom desempenho da agropecuária entre mortos e feridos, estudantes de cursos relacionados à área estão cada vez mais animados. Participando em peso da II Semana de Engenharia Agronômica (II Semeaf) da Faculdade Metropolitana de Anápolis (Fama) cerca de 400 alunos assistiram à palestra do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, sobre produção de alimentos no Centro-Oeste. O evento, que encerrou a Semana, foi realizado na noite da última sexta-feira (9) e na ocasião, Schreiner abordou ainda a questão da segurança alimentar, que “tem colocado o Brasil no centro das mesas de discussão”.

A palestra de José Mário encerrou o evento, mas desde quarta-feira (6) os alunos participaram de minicursos – cujos temas passaram por água, tecnologia e empreendedorismo – e tiveram a oportunidade de assistirem a palestra do professor Dr. Paulo Alexandre, que falou sobre a cana-de-açúcar no Centro-Oeste. Para o estudante do 6º período, Jonas Modesto de Souza, 22 anos, o evento é muito importante para quem precisa estar antenado com o mercado. “A palestra do José Mário foi o ponto alto da Semeaf, já que com o crescimento da população é indispensável saber mais sobre produção de alimentos. Além disso, ele fala sobre empreendedorismo que é o futuro da profissão”.

Segundo José Mário, até pouco tempo o Brasil era relacionado quase que exclusivamente à corrupção, mas a situação vem mudando com a representatividade do país no que tange às discussões sobre segurança alimentar. “Não se discute segurança alimentar sem que o Brasil esteja sentado no centro da mesa. Não falo de esquerda ou direita. Estamos no centro das discussões. Somos o único país que ainda temos áreas agricultáveis disponíveis e isso nos coloca em uma posição confortável demais”, pontuou. “Sem contar na nossa importância econômica: o Centro-Oeste responde por 51% da produção brasileira de grãos”, disse se referindo aos dados de 2014.

Ao falar sobre a possibilidade de evoluir com as áreas para o cultivo de alimentos e criação de animais, Schreiner também fez questão de destacar o papel dos futuros profissionais. “Vocês é quem irão levar tecnologia e inovação aos produtores. É daqui que precisa partir a tentativa de dobrar o consumo de alimentos com oferta de qualidade, de criar oportunidades e abrir ainda mais o mercado para os nossos produtos”.

Um Brasil de oportunidades
Além da questão específica da produção de alimentos, José Mário fez questão de abordar o atual cenário do país, que “segue passando por uma revolução no campo, formada por muito trabalho e suor”. O presidente da Faeg também falou sobre a importância da qualificação profissional, citando o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), entidade do qual é presidente do Conselho Administrativo. “Hoje a instituição oferece cerca de 250 cursos por semana e nossa intenção é aumentar cada vez mais esse número”.

“Vocês fazem parte de uma classe privilegiada. Hoje apenas 8% da população brasileira tem acesso ao ensino superior. E mais: apenas 4% consegue concluir seu curso. Vocês estão no lugar certo, na hora certa, no momento adequado e escolheram uma área que é a cara do Brasil”, disse, ao dar boas-vindas aos estudantes. Juntamente com palavras de incentivo, José Mário fez um alerta: “No Brasil existe uma mania muito errada de dividir as classes de produtores. Nós é que temos que acabar com isso. Não existem pequenos, médios e grandes produtores. Existem produtores. A agropecuária brasileira incorporou a tecnologia no seu dia a dia e vocês serão a ponte entre essa tecnologia e o produtor. Não pode haver diferenciação”.

Schreiner apresentou dados que deixaram os alunos extremamente interessados. “Um total de 15% dos produtores estão nas classes A e B. Eles são responsáveis por 85% do que é produzido aqui. Os outros 85% dos produtores ficam responsáveis por produzirem 15%. Esses não possuem informações, técnicos qualificados e acesso à tecnologia. É preciso mudar isso”.

A cara da evolução
Falando sobre as oportunidades do Brasil, José Mário destacou a evolução pela qual o país passou nos últimos 30 anos e como a agropecuária participou disso com um destaque especial. “Antes produzíamos 50 sacas de milho por hectare. Hoje esse número subiu para 200. Na cultura da soja, observamos um pulo de 30 para 60 sacas por hectare. Um boi era abatido com três anos, enquanto hoje podemos fazer isso quando o animal chega aos 18 meses, em média. Uma vaca de leite nos rendia 2 litros de leite por dia. Hoje são 20 litros diariamente. Qual o setor da economia evolui tanto”, questionou. “Até pouco tempo atrás importávamos manteiga, leite em pó, feijão e arroz. Hoje produzimos tudo isso. E produzimos muito bem”, disse.

Em contrapartida, o presidente da Faeg destacou os problemas pelos quais o Brasil passa. ‘O país está sempre atrasado. O nosso problema se chama falta de planejamento. Aqui é tudo feito no imprevisto. Rodovias, ferrovias, hidrovias, energia elétrica, políticas públicas para o setor… tudo passa da hora”.

Além dos alunos e do corpo docente da Fama, Randerson Aguiar e José Manoel Caixeta compareceram ao evento, representando o Sindicato Rural (SR) de Anápolis. Segundo o coordenador do curso de Ciências Agronômicas da Fama, Wellington Jacinto, a palestra de José Mário foi uma “aula de cultura agropecuária”. Cursando o 3º período, Paulo José Moraes, 19 anos, concordou. “Ele fala também do mercado de trabalho e isso é importante demais para nós, estudantes. O mercado está muito dinâmico e todo tipo de informação é valiosa”.