Programa para qualificar instrutores para aplicadores de agrotóxicos será anunciado na Agrishow 2023

Decreto do Governo Federal prevê que em três anos somente poderá manejar esses produtos nas lavouras quem tiver qualificação e chancela oficial para a prática; segundo pesquisador, pelo menos 2 milhões demandam capacitação

Fruto de parceria entre o Centro de Engenharia e Automação (CEA), do Instituto Agronômico (IAC), e o setor privado, a Unidade de Referência em Produtos Químicos e Biológicos (UR) anuncia na Agrishow uma iniciativa inédita para robustecer a qualificação de trabalhadores rurais. A UR desenvolveu o primeiro módulo EAD com objetivo de capacitar instrutores aptos a habilitar aplicadores de agrotóxicos e afins, em linha com o que prevê o Decreto nº 10.833/2021 (Programa Aplicador Legal), do Governo Federal.

Vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP e sediada na cidade de Jundiaí, a Unidade de Referência, instalada no centro de pesquisas do CEA-IAC, firmou convênio com um portal da área de educação rural para a montagem do curso. O conteúdo, concluído em fevereiro último, será agora estendido a empresas e profissionais do agro, após atender mais de 140 alunos, em treinamento, apoiados pela entidade setorial Croplife Brasil.

“Daqui a três anos, somente poderá aplicar fungicidas, herbicidas, inseticidas e outros agroquímicos quem portar a ‘carteira de habilitação’ exigida pelo Decreto Federal e fornecida pelo Mapa – Ministério da Agricultura e Pecuária”, diz Hamilton Ramos, coordenador da Unidade de Referência, pesquisador da Secretaria da Agricultura de SP e também diretor do CEA-IAC.

“Pela nova regulamentação do Ministério da Agricultura, para exercer sua profissão o aplicador de agrotóxicos terá de passar por uma espécie de ‘autoescola técnica’”, continua ele. “O curso EAD da Unidade de Referência veio para fomentar o surgimento de ‘autoescolas’ dotadas de estrutura e qualidade, capazes de entregar treinamentos reconhecidamente eficazes aos profissionais lotados no tratamento de lavouras”, exemplifica Ramos.

Déficit em qualificação e metas

Ramos enfatiza que o conteúdo programático do EAD da Unidade de Referência está também em plena conformidade com a Norma Regulamentadora 31.7 (NR 31.7), do Ministério do Trabalho e Previdência, ancorada em preceitos de segurança e saúde do trabalho agrícola. “Os pilares do curso da UR são os mesmos expressos no Programa Nacional de Habilitação de Aplicadores de Agrotóxicos e Afins ou ‘Aplicador Legal, resultante do Decreto de 2021.”

Conforme Ramos, também idealizador do conteúdo do EAD, a expectativa da UR é a de atrair mais de 1 mil alunos até 2024. “Hoje em dia somente entre 30% e 40% dos aplicadores de agroquímicos são treinados segundo boas práticas de saúde, segurança e tecnologias, abrangendo pequenas, médias e grandes propriedades. O déficit de qualificação na área é elevado no Brasil.”

Para ele, portanto, será preciso “traçar metas ambiciosas” para o país chegar a 2026 com um contingente satisfatório de aplicadores habilitados. “Hoje 80% das propriedades rurais têm menos de 100 hectares, ao passo que 50% destas não ultrapassam dez hectares. Calculamos, por baixo, que pelo menos dois milhões de aplicadores demandarão treinamento e habilitação”, frisa Ramos.

Chancela oficial e instrutores

Hamilton Ramos reforça que a aplicação integral do curso, chancelado pelo IAC – Instituto Agronômico, se dá por meio da plataforma de treinamentos Fonteagro. “As aulas são gravadas em 11 módulos, sobre segurança e tecnologia de aplicação, tipos de pulverizadores, armazenamento, transporte, conservação de polinizadores e manejo integrado de pragas. Profissionais que concluem o curso com êxito recebem o certificado da UR.”

Além de Ramos, reconhecido dentro e fora do país entre referências da área de Tecnologia de Aplicação, ministram o curso nomes relevantes do agro brasileiro: o ex-professor da Unesp de Jaboticabal, hoje consultor, Santin Gravena, especialista em manejo integrado de pragas (MIP) e o empresário Luiz César Pio (Herbicat), além do líder de sustentabilidade e stewardship da CropLife, engenheiro agrônomo Roberto Araújo, entre outros.

Fonte:  Fernanda Campos