Projeto refloresta mangues da Amazônia

Na Década da Restauração de Ecossistemas, iniciativa promove a conservação e o plantio de árvores, unindo o conhecimento científico ao tradicional, para o uso sustentável da madeira e caranguejo com aumento de renda e valorização cultural e social das populações locais

A Década da Restauração de Ecossistemas, instituída pela ONU até 2030, evidencia os desafios de um dos ambientes naturais mais importantes do planeta: os manguezais, em especial aqueles que marcam o encontro entre a maior floresta tropical do mundo e o Oceano Atlântico, na costa do Pará, Amapá e Maranhão.

Em terras paraenses, além de contribuir para manter essas matas de pé e reflorestar áreas impactadas, a valorização do uso sustentável da biodiversidade – junto aos aspectos sociais e culturais desses ecossistemas – inspira as ações do projeto “Mangues da Amazônia”. A iniciativa é realizada pelo Instituto Peabiru em parceria com a Associação Sarambuí e o Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), com patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental.

Com duração de dois anos, o projeto, iniciado em março, se concentra em três reservas extrativistas marinhas dos municípios de Augusto Corrêa, Bragança e Tracuateua, no Pará, beneficiando direta e indiretamente mais de 7,6 mil pessoas. Entre os objetivos, estão a conservação de 30 hectares de manguezais e o plantio de mudas e sementes para o restauro de outros 12 hectares, em áreas degradadas, com oferta de assistência técnica, engajamento social e atividades de educação, cultura e pesquisas acadêmicas, aliando conhecimento científico ao tradicional das comunidades.

As atividades e seus resultados darão suporte ao manejo sustentável dos recursos naturais, como a madeira de mangue-branco, extraída para fazer currais de pesca ou carvão, e o caranguejo-uçá, que é importante fonte de sustento e de lá abastece restaurantes em várias regiões do País.

“Queremos fortalecer a organização social de comunidades locais, guardiãs dos mangues como fonte de segurança alimentar e renda”, afirma João Meirelles Filho, diretor do Instituto Peabiru, em Belém, que desde 2005 realiza projetos voltados a dar visibilidade aos manguezais da Amazônia, com base na ciência. Além do papel exercido pelas árvores plantadas no processo de captura de carbono da atmosfera, os estudos atuais abordarão desde as práticas locais de uso da natureza até a presença dos manguezais na música.

A região reúne a maior faixa contínua de manguezais do mundo – 80% dos existentes do Brasil, com diferenciais devido à grande quantidade de sedimentos carregados pelo Rio Amazonas até o estuário. Os mangues amazônicos têm como principal característica a exuberância e altura da vegetação, com capacidade de estocar carbono nas árvores e no solo em quantidade superior à das demais regiões brasileiras, o que confere um papel importante na mitigação da mudança climática.

“Junto à restauração do ecossistema, a educação ambiental entra para mostrar as riquezas naturais e a importância do uso sustentável”, explica John Gomes, gestor do projeto, que trabalhará prioritariamente com crianças e adolescentes de comunidades tradicionais, desenvolvendo temas ligados à agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, como a equidade de gênero.

Os manguezais se destacam pelos chamados “serviços ecossistêmicos”: além de berçário da biodiversidade marinha, estocam carbono e funcionam como escudo natural contra o avanço do nível do mar e desastres ambientais costeiros. Segundo o pesquisador Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezais da UFPA, os mangues da Amazônia estão em bom estado de conservação, comparativamente aos do Nordeste e Sudeste. Mas, dependendo da região, enfrentam riscos como os existentes no Pará: aumento do nível do mar devido à mudança climática, queimadas do entorno e corte ilegal para uso da madeira, entre outros. “Com a restauração, queremos obter dados básicos para propor métodos sustentáveis de manejo, com engajamento das comunidades”, aponta o pesquisador.

Fonte: Arco Comunicação