Projetos de CCS são urgentes e devem utilizar “todos os mecanismos financeiros”, afirmam especialistas em evento sobre mercado de carbono

Com destacados representantes da academia, do governo e do setor privado, a CCS Brasil e o Banco do Brasil promoveram no último dia 5, o evento Conexão CCS – Mercado de Carbono e a Integração de Financiamentos Públicos e Privados para a Implementação de Projetos no Brasil. O encontro teve o apoio do Campos Mello Advogados e da EQAO.

A Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) é o processo responsável por captar as emissões de carbono vindas da indústria, da produção de combustíveis ou geração de energia termelétrica e armazenar o CO2 em reservatórios geológicos de forma segura e permanente.

“Quando pensamos em neutralidade de carbono, não estamos falando de zero emissões”. Foi assim que Heloísa Borges, Diretora da Empresa de Pesquisa Energética, órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, sintetizou o desafio para chegar ao objetivo declarado pelo governo brasileiro para 2050. A neutralidade de carbono – também chamada Net Zero -, não se trata de zerar emissões de carbono na atmosfera, mas sim de que a diferença entre as emissões e capturas chegue a zero.

Nas quatro mesas, a regulamentação da atividade foi mencionada como necessária para o avanço do financiamento, com menções ao PL 1425/2022, que aguarda apreciação da Câmara dos Deputados.

“O empreendedor precisa de garantia de acesso ao espaço em que vai fazer a injeção de carbono, e da garantia de acesso aos créditos de carbono”, afirmou Milas Evangelista, CEO da Renovar Sustentabilidade.

Devido ao alto valor de capital necessário, “todos os mecanismos financeiros” devem ser usados e combinados, argumento que foi consenso entre todos os participantes. Aportes por dívida, equity e bancos multilaterais com linhas de financiamento especial foram as mais mencionadas, assim como aqueles já disponíveis e utilizados pelo setor de óleo e gás.

“Investimento em sustentabilidade é em infraestrutura, por isso vamos precisar de todos os produtos financeiros possíveis, além de mais informação e educação”, resumiu Cesar Sanches Head de Sustentabilidade da B3.

A Petrobras, que opera o maior projeto offshore de injeção de carbono do mundo em termos de injeção anual também foi mencionada e representada. Alexandre Calmon, sócio do Campos Mello advogados, foi enfático: “já há no Brasil conhecimento técnico para desenvolvimento dessa cadeia de produção”, explica.

Julio Meneghini, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), ponderou a necessidade de colaborações internacionais. “Quando fizemos parcerias com pesquisadores internacionais, trouxemos eles para coordenar projetos aqui. Somente enviar o dinheiro é fazer com que a dependência tecnológica permaneça”, destacou.

Os painéis aconteceram no dia seguinte à aprovação do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, pela Comissão de Meio Ambiente do Senado, tema da última mesa.

Carlos de Mathias Martins Junior, fundador da EQAO, foi crítico à exclusão do agronegócio no projeto aprovado. “Faz sentido retirar o que ainda não existe de tecnologia para reduzir emissão. Mas não o setor inteiro. Vamos fazer com que todos participem dessa jornada de descarbonização. O setor agro tem grandes oportunidades para ganhar em receitas com o mercado de carbono, especialmente pela possibilidade de aplicar CCS”, disse.

Isabella Morbach, advogada e cofundadora da CCS Brasil, ao final do evento reforçou a necessidade das trocas intersetoriais para o avanço do setor no brasil. “O que fica para mim de lição é que a gente precisa conversar mais em mesas como essas”, aponta.

Nathália Weber, também cofundadora da CCS Brasil e engenheira, enfatizou a importância de se pensar as estratégias para CCS como parte de um conjunto de soluções para uma economia de baixo carbono, em que cada uma das ferramentas precisa de escala, com papéis complementares.

Fonte: Renan Araujo