Sistema de irrigação por pivô central ganha espaço entre os produtores rurais

Tema foi abordado na segunda noite do Ciclo de Irrigação promovido pelo Instituto Desenvolve Pecuária

O relato sobre as experiências com o sistema de irrigação por pivô central deu continuidade  ao ciclo de palestras sobre irrigação promovido pelo Instituto Desenvolve Pecuária e que teve início na última segunda-feira. Os palestrantes foram Gabriel Mello Souza Fernandes, de Pedras Altas (RS), Cristiano Costalunga Gotuzzo, de Piratini (RS), e Átila Ricardo Vinhas Filho, de Dom Pedrito (RS). O debate junto aos produtores que teve por objetivo mostrar o que vem sendo feito para evitar os problemas causados pela estiagem ocorreu dentro do Prosa de Pecuária, no canal de YouTube da entidade.

O vice-presidente do Desenvolve Pecuária, Paulo Costa Ebbesen, abriu a live salientando que a irrigação é uma importante ferramenta especialmente quando o Estado enfrenta uma grave crise hídrica. Destacou que existem vários tipos de irrigação, mas o método por aspersão por pivô central foi o foco dos palestrantes nesta 10ª edição do Prosa de Pecuária.

O primeiro palestrante, Átila Ricardo Vinhas Filho, afirmou que há quatro anos tem lavoura irrigada em sua propriedade, além de pecuária de recria e engorda, e que a ampliação do sistema de irrigação é irreversível, apesar dos inúmeros obstáculos. Destacou a importância dos projetos para a instalação dos pivôs, “enxergando a propriedade como um todo e considerando as alternativas de fonte de água”. Abordou também a questão das licenças ambientais que, segundo ele, precisam ser feitas já a partir do primeiro projeto, independentemente se será executado ou não, como forma de proteger todo o investimento. “O tema que precisa ser contemplado também com bastante eficiência é a escolha da fonte de energia que será usada”, observou.

Vinhas Filho salientou, ainda, uma outra preocupação já fora da propriedade, que são os incentivos como, por exemplo, o programa Mais Água Mais Renda. “Hoje nós temos uma alta carga tributária. Subiu muito o preço do pivô. Um produto que vai produzir alimento, gerar riqueza no interior do Brasil, tem que ter mais atenção das autoridades. Os produtores estão com dificuldades de vencer os obstáculos, sejam ambientais, energéticos ou em infraestrutura nas estradas”, enfatizou, lembrando que o salvamento de uma lavoura, de uma atividade econômica, é muito importante para o Estado como um todo.

O produtor rural Gabriel Mello Souza Fernandes, em sua fala, colocou que na sua propriedade a irrigação é muito utilizada, onde o solo é fértil mas difícil de trabalhar por ter pouca areia e muita argila. A estância produz soja e tem um ciclo completo de búfalos e de gado Angus. Explicou que a busca pelo sistema de irrigação foi para explorar o potencial máximo das cultivares.”Quando se fala em pivô é preciso destacar fatores como segurança, estabilidade e produtividade. Ele tem um ganho de capital imobiliário, as terras irrigadas cada vez mais estão sendo valorizadas”, pontuou.

De acordo com Fernandes, o maior problema de investimento em pivô é o desconhecimento e afirmou que se a lavoura for boa a irrigação só vai somar. Em termos de produtividade, informou que no ano passado colheu 77.7 sacos de soja irrigada, o que deu uma margem muito boa para trabalhar. “Já fora da irrigação colhemos 52 sacos de soja, então a diferença foi de cerca de 25 sacos. Se chove, a produtividade se aproxima, mas quando ocorre a estiagem fica mais distante, já tivemos diferença de 30 a 40 sacos de soja entre a de sequeiro e a irrigada”, colocou, informando que a propriedade tem hoje uma área irrigada de 700 hectares e um projeto para ampliar para 1000 hectares. Em relação à pecuária, disse que com a irrigação consegue tirar entre 700 e 800 quilos de carne.

Fernandes também abordou a questão da segurança alimentar. “Quando começou a pandemia as pessoas correram para o supermercado com medo de que o alimento acabasse, mas quem produz comida é o produtor rural. Nós temos que mudar essa consciência para que o alimento seja valorizado e o produtor possa trabalhar. Finalizou a sua palestra dizendo que é preciso irrigar por meio de pivô ou outra alternativa. “Fico triste de ver o produtor rural trabalhar o ano inteiro e não conseguir pagar as suas contas. Estamos tentando corrigir isso com a irrigação”, concluiu.

Por sua vez, Cristiano Costalunga Gotuzzo, que também é produtor rural e engenheiro agrônomo, relatou sua experiência sobre o assunto. Para ele, antes de tudo é importante corrigir a fertilidade, escolher a forrageira adaptada, aprender a manejar a pastagem, conhecer o potencial de produção e depois dedicar-se à questão dos sistemas de irrigação. Segundo ele, “é necessário darmos condições da planta produzir. Não é a água que vai resolver os problemas e muita gente pensa nesse sentido.”

Conforme Gotuzzo, a “ideia da irrigação é tentar produzir comida nos momentos mais escassos”. Ele citou como exemplo uma propriedade que possui como gargalo a venda de novilhos entre dezembro e maio. “Todos os anos que tem seca no verão é muito difícil ajustar um fluxo de caixa, onde eu tenho muita venda no inverno”, detalhou. “Então estamos trabalhando em sistemas de irrigação, em sistemas de integração lavoura-pecuária pensando nessa condição de melhorar essa distribuição das vendas ao longo do ano com pastagens perenes e irrigadas e qualidade para conseguir ter esse novilho gordo também nessa época”, complementou.

Outro ponto importante destacado por ele no evento on-line foi sobre os recursos financeiros necessários. De acordo com Gotuzzo, o custo médio para instalar um sistema de irrigação é de em torno R$ 25 mil a R$ 30 mil por hectare, levando em conta que é imprescindível reformar uma barragem e disponibilizar energia trifásica, por exemplo, que acarretam em custos adicionais. Nesse sentido, o produtor e engenheiro agrônomo sinalizou que as duas principais linhas de crédito rural são o Proirriga e o InvestAgro. “Existe um projeto na Câmara Federal, proposta de lei 2636/21, definindo linha de crédito para propriedades de até 500 hectares com juros de 3% ao ano, prazo de até 15 anos, até três anos de carência e teto de R$ 3,5 milhões por CPF”, recordou, complementando que uma linha como essa facilitaria muito os investimentos em irrigação. “Sem água não é possível produzir”, finalizou.

Fonte: Rejane Costa e Larissa Mamouna/AgroEffective