Soja transgênica combate HIV e dá certificado a pesquisador da Embrapa

Pesquisador da Embrapa recebe prêmio do Consórcio Federal de Laboratórios para TT dos EUA

Elíbio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Foto: Debora Klempous

Elíbio Rech foi agraciado pelo desenvolvimento de tecnologia para combate ao HIV

Diploma recebido por Rech pelo desenvolvimento de tecnologia para combate ao HIV – Foto: Arquivo

O pesquisador da Embrapa Elibio Rech foi agraciado no mês de abril com o prêmio “Excelência em Transferência de Tecnologia 2018” pelo Consórcio Federal de Laboratórios para Transferência de Tecnologia dos Estados Unidos (FLC – EUA). O diploma (foto) foi concedido pelo desenvolvimento de uma plataforma para a produção em larga escala de uma proteína anti-HIV.

O estudo, publicado pela primeira vez em 2015 na revista Science, demonstrou que sementes de soja geneticamente modificadas (GM) são uma biofábrica viável para produção, em larga escala, da Cianovirina-N – proteína extraída de cianobactérias (extraída da alga azul-verde – Nostoc ellipsosporum) altamente eficiente contra o vírus HIV. Além do diploma de reconhecimento, o pesquisador recebeu correspondências com os cumprimentos formais do Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Alex M. Azar II, do Governador do Estado de Maryland, Larry Hogan, e do Senador pelo Partido Democrata Chris Van Hollen.

O FLC congrega mais de 300 laboratórios de renomadas instituições de pesquisa e ensino norte-americanas, como o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e as Universidades de Cornell, Carolina do Norte e Maryland, entre outras. O objetivo é promover estratégias de comercialização e criar oportunidades para acelerar a chegada das tecnologias produzidas nos laboratórios nos mercados. O consórcio é dividido por seis regiões: Extremo-Oeste, Atlântico-Médio, Médio-Continente, Nordeste e Sudeste.

A pesquisa, conduzida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceria com a Universidade de Londres, o Instituto Nacional de Saúde (INH) dos Estados Unidos e o Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul (CSIR), teve ampla repercussão mundial e já havia recebido em novembro do ano passado premiação do Consórcio Federal de Laboratórios do Médio-Atlântico (FLC MAR).

Elibio Rech se diz honrado em receber o reconhecimento oficial de instituições norte-americanas para um projeto pensado para segmentos da sociedade com pouco ou nenhum acesso a medicamentos antirretrovirais: “Trata-se de um projeto emblemático para a engenharia genética, direcionado a segmentos da sociedade que têm menos acesso a medicamentos. E são produtos de alta tecnologia, com grande valor agregado”, explica.

O pesquisador da Embrapa fará estudos para que a mesma técnica seja replicada com várias outras moléculas, para emprego em vacinas contra a dengue e malária e em tratamentos contra o câncer de mama, por exemplo.

Somente na África, 20% das mortes são em decorrência da AIDS. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 20% da população adulta na Zâmbia e na África do Sul vive com a doença. No Brasil, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de pessoas vivendo com o vírus subiu 3% entre 2010 e 2016, na contramão do restante do mundo, que registrou queda de 11% no mesmo período.

Saiba mais sobre a pesquisa

Por definição, uma biofábrica ou fábrica biológica é quando um organismo – nesse caso, a soja GM – se torna uma usina para fabricação de compostos (como proteínas e enzimas) utilizados em remédios e na indústria têxtil e de detergentes, por exemplo. No caso da pesquisa da Embrapa, a escolha da semente de soja se deve ao fato dela acumular em média 40% de proteína, sendo por esse motivo indicada para produção de cianovirina, a baixo custo, com facilidade de transporte e estoque.

“Há mais de uma década, iniciamos no Brasil e nos EUA a purificação dessa proteína, para obtermos uma matéria-prima 100% pura. Tecnicamente, o mais difícil em todo esse processo já foi feito. Os próximos passos, agora, são produzir as sementes e gerar proteína em larga escala e, então, realizar os estudos pré-clínicos e clínicos”, afirma Rech, que também é doutor em Ciências da Vida pela Universidade de Nottingham, na Inglaterra, membro da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biologia Sintética (INCT ByoSin). O pesquisador explica ainda que, como a finalidade dessa soja é medicamentosa, ela não será cultivada no campo, somente em estufas e casas de vegetação sob condições controladas.

A pesquisa de Elibio Rech poderá contribuir para a criação, no futuro, de um gel ou spray vaginal à base de cianovirina que poderá ser utilizado pelas mulheres antes das relações sexuais. “E os países que decidirem adotar a tecnologia não precisarão pagar royalties, pois trata-se de um trabalho humanitário com foco na África”, destaca o pesquisador.

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia / Por Irene Santana

Crédito: Arquivo/CIB/Débora Lempous