Técnica aumenta produtividade de grãos

Técnica aumenta produtividade de grãos em terras baixas

Na segunda safra o aumento foi de 26 sc/ha na soja

O trabalho de pesquisa procurou adaptar culturas de grãos em terras baixas gaúchas e obteve aumento considerável da produtividade. Foi usada a técnica sulco-camalhão. Como o solo das terras baixas é caracterizado por deficiência em drenagem natural, a prática reduz estresse hídrico em período da seca e evita encharcamento em épocas com excesso de chuva, permitindo estabilidade na produção.

O plantio se dá no trecho mais elevado (camalhão) e os sulcos laterais servem para escoamento da água de drenagem e irrigação e por onde passam os rodados das máquinas. O trabalho foi feito em seis propriedades com lavouras de soja e milho com o objetivo de adaptar culturas de terras altas às terras baixas gaúchas

O Projeto Sulco começou em 2019, na soja. Na primeira safra foram mais de 20 sacas por hectare (sc/ha) de soja em comparação à média de produção da área ao lado, que não usou essa tecnologia. Já na segunda safra o aumento foi de 26 sc/ha. O custo médio pela aplicação da tecnologia de sulco-camalhão ficou em R$ 637,00 sc/ha.

“Os resultados têm sido muito bons, gerando estabilidade de produção. No sistema convencional, em anos secos ou de muita chuva, a produção de soja e milho é baixa. Já em anos em que está tudo bem com o clima, produz bem. E no sistema sulco-camalhão do Projeto Sulco temos tido boas produções com estabilidade”, destaca o pesquisador da Embrapa Clima Temperado José Maria Parfitt .

Conforme os resultados desse trabalho, ao adubar bem a cultura da soja, é possível alcançar cerca de cinco mil quilos por hectare, com boa estabilidade e usando boas cultivares. Com a cultura do milho não é diferente, é possível chegar à produção de 12 toneladas do grão ano a ano, independentemente das condições climáticas.

“A primeira safra do Projeto (2019/2020) foi extremamente seca, com perdas de produtividade nas lavouras do estado, mas as áreas-piloto de soja irrigada produziram, em média, 20 sc/ha a mais do que as áreas não irrigadas na mesma propriedade, com produtividade média de 66,3 sc/ha. Essa produtividade corresponde ao peso da produção total obtida na colheita, ajustada para a umidade de 13% e descontadas as impurezas”, avalia Parfitt.

Quanto à viabilidade econômica, foi preciso considerar as cotações da época, os custos adicionais para a realização da irrigação e da drenagem por sulco-camalhão, resultando uma média de 3,5 sc/ha, indicando excelente viabilidade econômica do sistema. “Os custos adicionais incluem a suavização, a construção dos sulcos-camalhões, a aquisição dos politubos e o custo da água e energia para irrigação”, ressalta Centeno. Ele enfatiza que a suavização é um investimento, sendo adicionado aos custos na forma de depreciação em cinco anos.

O projeto é realizado em parceria público-privada, com participação de empresa de irrigação, máquinas e agricultura de precisão. A ideia para as próximas safras é adaptar a técnica para o arroz. “A adoção desse sistema permite o cultivo de arroz em plantio direto sobre a resteva da soja ou milho, dispensado, portanto, a movimentação do solo para operações de preparo, o que é favorável sob os aspectos técnico, econômico e ambiental”, destaca a pesquisadora da Embrapa Walkyria Scivittaro.

A tecnologia de irrigação do arroz por sulco dispensa a construção de taipas, necessárias para a irrigação por inundação do solo, resultando em economia de combustível, tempo e, principalmente, mão de obra.

Como construir

O produtor pode usar as ferramentas disponíveis na propriedade. Essa tecnologia serve tanto para pequenos, como para médios e grandes produtores. “No caso do pequeno produtor, por exemplo, ele pode tentar reproduzir o ‘telhado’, fazer o preparo de toda a terra, passar uma grade e então fazer os camalhões, de modo que os sulcos fiquem no sentido da declividade da área, a fim de que a água excessiva corra por ali e vá embora”, explica Parfitt. Depois o produtor pode pegar uma aiveca (tipo de arado), puxado por um trator ou por tração animal, como um cavalo, o qual fará dois camalhões por vez. “É uma forma mais simples de fazer o sulco-camalhão, mas fica bem-feito”, comenta o cientista. Para produtores médios e grandes já existem implementos específicos para a construção dos camalhões. Feito isso, são plantadas com a semeadeira as plantas da cultura desejada, fazendo uma ou duas linhas em cima do camalhão, com espaçamento entre 30 cm e 35 cm. Essa técnica é feita na cultura da soja, milho ou sorgo.

Fonte: Agrolink