Tomada de decisão certeira: Expectativas do mercado para a safra 2019/20

Safra 2019/20: Perspectivas para o câmbio, preços de diferentes culturas, custos de insumos e o que esperar do cenário econômico nos próximos meses

O que esperar do mercado na safra 2019/20? Qual a tendência de preços para commodities como soja e milho? E o custo de produção: tende a aumentar ou ficar estável na próxima safra?

Estar atento aos movimentos de mercado é fundamental para tomar decisões mais certeiras, desde o planejamento até a venda da sua produção.

Safra 2019/20: Câmbio e mercado internacional

O comportamento do dólar neste segundo semestre deve ser bastante diferente do visto no final do ano passado/começo deste ano.

Se durante o primeiro semestre, o câmbio atuou favoravelmente para o agronegócio brasileiro, neste segundo semestre, o cenário é mais desafiador. A moeda norte-americana vem se valorizando frente ao real, reflexos de três fatores:

  • Baixa taxa de crescimento das economias mundiais
  • Escalada da guerra comercial entre China x Estados Unidos
  • Aumento dos juros nos EUA

“Esses três componentes trouxeram instabilidade para o mercado mundial e isso tem trazido para o mercado doméstico, principalmente para as economias emergentes, como o Brasil, uma desvalorização cambial”, explica Haroldo Torres. Devemos então ter um segundo semestre com o dólar elevado, em patamar superior ao vivenciado nos primeiros meses do ano.

Se isso é benéfico para as exportações, por outro lado, afetará os custos de produção, impactando os preços de insumos importados como defensivos e fertilizantes, como veremos mais à frente. Outra questão relevante e que continuará trazendo reflexos ao agronegócio é a guerra comercial entre China e EUA. Esse cenário favorece as exportações brasileiras de milho e soja para o país asiático, grande comprador de grãos.

Além disso, o atraso histórico na safra norte-americana devido a problemas climáticos reduz a demanda por insumos agrícolas em geral. E isso pode impactar o mercado brasileiro tanto em termos de preço quanto em custo de insumos. Do outro lado, comenta o professor, temos a China enfrentando febre suína africana, com redução de 30% a 50% do plantel. Essa condição beneficia exportações brasileiras de carne suína e, indiretamente, de frango – ainda que haja restrições sanitárias.

“O segundo semestre e essa safra se iniciam em um cenário favorável ao Brasil, diferentemente do cenário econômico, onde temos um peso forte do câmbio, que pressionará em termos de custo.”

O que esperar da safra 2019/20: Milho e Soja

Soja – A guerra comercial entre China e Estados Unidos tem trazido impactos diversos ao agronegócio brasileiro. E tende a beneficiar muito a soja brasileira, segundo Torres. Mesmo com o Brasil aumentando a produção em torno de 6%, segundo dados da Conab, os preços em reais vão permanecer em patamares sustentados, acredita o economista.

Contribuem para isso a valorização do dólar, principalmente, e o direcionamento de mais grãos para o mercado chinês. “Mesmo com aumento de produção, teremos preços em reais em patamares muito sustentados.”

Segundo a Conab, a área plantada de soja para a safra 2019/20 deve ser 610 mil hectares maior, uma variação de 1,7%. A expectativa é que a produtividade do grão aumente em 4,3%, atingindo mais 140 quilos por hectare. Mas, é importante lembrar que, em momento de instabilidade mundial, quem mais sofre com as variações de preços são as commodities.

“Mesmo que o cenário aponte ventos melhores para o agronegócio, devemos ter uma volatilidade maior dos preços das commodities agrícolas. Isso reforça que o produtor tem que ficar muito atento ao momento de fazer a precificação, de adotar a melhor estratégia de operação de hedge e comercialização da safra. Embora teremos preços médios relativamente melhores, teremos oscilação muito forte trazida por esses ventos do mercado mundial.”

Milho – Ao contrário da soja, os números para a safra de milho apontam queda de 38 mil toneladas na produção nacional, considerando safra verão e safrinha. Apesar disso, a área plantada deve ser 5,9% maior, conforme os dados da Conab. Já internacionalmente, a produção deve crescer. Nos Estados Unidos, relatório do USDA (departamento de agricultura norte-americano) aponta crescimento produtivo na próxima safra, mesmo com os problemas climáticos enfrentados.

Mas a queda de produção brasileira deve ser compensada pela valorização do dólar e, indiretamente, pela exportação de carne suína para a China. “E esperamos que mais unidades produtivas sejam liberadas para a exportação”.

Há ainda possibilidade de aumento na demanda de proteína animal no mercado doméstico, o que pode pressionar os preços do milho. “A previsão e as nossas expectativas de mercado indicam que, para milho e soja, vamos caminhar em um sentido mais confortável de preços”, destaca Torres.

Expectativas de safra 2019/20: Trigo, algodão, café e cacau

Os preços do trigo devem permanecer elevados no mercado nacional, pressionados por três fatores principais: alta do dólar, redução da oferta nacional e situação de crise da Argentina.

Já o café tem expectativa de safra melhor no Brasil, apesar das geadas em áreas produtivas. Mundialmente, a tendência também é de safra melhor, com bons resultados no Vietnã e Colômbia.

No caso do algodão, o cenário é de atenção, segundo Torres. Os preços acumulam queda de mais de 30% e a elevação do dólar frente ao real é insuficiente para compensar essas perdas.

“A queda nos preços do algodão em dólar no exterior está sendo maior que a desvalorização cambial no Brasil. O algodão foi a maior rentabilidade lá atrás, mas nesta safra terá margens muito deletérias e o produtor precisará de um trabalho muito forte de gestão”, diz o economista.

Em relação ao cacau, o cenário é de queda na produção em Gana e controle de preços no país e na Costa do Marfim. Isso poderia pressionar aumento de preços, mas como há menor demanda em função do baixo crescimento mundial, os preços devem ficar estáveis.

O que esperar do mercado de açúcar e etanol na safra 2019/20

Com preços em baixa nos últimos anos, a cana-de-açúcar não deve apresentar um ritmo acelerado de crescimento em curto prazo. O setor ainda passa por processos de ajuste da oferta e vive esforço contínuo para redução de custos de produção.

A boa notícia é que há uma redução dos estoques globais de açúcar e aumento no consumo do global do produto. Ao mesmo tempo, a demanda interna por etanol, em especial o hidratado, está aquecida.

“Essa redução nos estoques globais de açúcar vão tender a reagir os preços do açúcar no mercado mundial, especial do negociado na Bolsa de Nova York. Esses preços têm andado de lado, mas tudo indica que a partir de 2020 teremos uma recuperação muito forte vinda do preço do açúcar no mercado internacional”, diz o economista.

Mas, enquanto essa recuperação não vem, o etanol tem batido recorde no mercado doméstico, o que vem direcionando as usinas a uma maior produção de etanol em relação a açúcar. Para a safra 2019/20, é previsto crescimento de 5% de volume de cana-de-açúcar. E, com a perspectiva de recuperação do preço dos produtos da cana, o que se espera é uma recuperação dos preços do ATR na safra 2019/20 e 2020/21.

Custo dos insumos agrícolas – Se o dólar alto beneficia as culturas exportadoras, principalmente soja e milho, também pressiona o preço de insumos importados. E isso, claro, afeta os custos de produção e pode reduzir ainda mais a margem de diversas culturas.

Preços dos fertilizantes na safra 2019/20

No caso dos fertilizantes, desde setembro do ano passado, houve queda nos preços em dólar. Mas, com a desvalorização do real, essa diferença não chega a beneficiar tanto o produtor brasileiro. E, para as próximas duas safras, a perspectiva é de que os custos fiquem mais elevados devido ao dólar e ao aumento da demanda internacional.

“Nos Estados Unidos, a safra 2020/21 deve sofrer normalização das variáveis climáticas e do calendário agrícola, com maior produção de milho e menos soja. Com isso, veremos normalizar a demanda de fertilizantes, com maior pressão sobre os preços dos insumos na primavera do hemisfério norte”, explica Torres.

Preços dos fertilizantes no mercado nacional

Os produtores de soja que ainda estão olhando para o momento de comprar os insumos para a safra 2019/20 podem considerar fazê-lo o quanto antes. “O custo vai aumentar. Teremos aumento da demanda por insumos e ele pode ser repentino dependendo da dinâmica de compra pelos produtores rurais”, acredita o economista.

No caso do milho, o aumento da demanda pelo grão pode incentivar ganhos de área em 2020. E isso também impactará a demanda por fertilizantes no ano que vem. “A partir de 2020, devemos ter um movimento de aumento dos preços dos fertilizantes em dólares e em reais. Isso pode ocasionar aumento de preços no mercado doméstico.”

Já no caso da ureia, os preços no Brasil e nos EUA caminham muito parecidos. A ureia também teve redução de preços em dólar desde setembro do ano passado. As expectativas de novas elevações nos preços da soja e desvalorização do real pressionam aumento de preços deste insumo.

Preços dos defensivos na safra 2019/20

Segundo Torres, há no mercado externo um desequilíbrio entre oferta e demanda. Isso porque muitos países anteciparam a compra de defensivos em função da guerra comercial entre China e EUA.

Além disso, há um forte risco de fechamento de fábricas chinesas produtoras de defensivos devido a problemas ambientais. E isso pressionaria ainda mais os preços.

“O mercado chinês reforça que vai ter restrição de oferta desses produtos. Só recentemente conseguimos observar que 43% da capacidade de produção do glifosato, por exemplo, encontra-se em situação ambientalmente irregular na China. Esse preço do glifosato em dólar vai tender a um aumento trazido pela restrição de oferta chinesa”, comenta o economista.

Já no cenário doméstico, temos o Brasil facilitando o registro de novos defensivos através do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Isso traz dinamismo para o mercado, já que aumenta a concorrência e libera novos princípios ativos.

Ainda assim, o impacto do câmbio pesa no preço dos defensivos e, o produtor rural que comprou antes, provavelmente se beneficiou de preços melhores.

“Muito similar ao caso dos fertilizantes, o mercado de defensivos deve se acelerar para a nossa safra. Vamos perceber preços mais estáveis no começo de safra ou até mesmo picos em demandas específicas, mas eles tendem a ficar em patamar elevado a partir do ano que vem”.

Conclusão

A taxa de câmbio elevada atua sobre dois lados para a safra 2019/20: beneficia as culturas exportadoras, mas aumenta os custos produtivos. Fertilizantes e defensivos, como glifosato, 2,4-D, tendem a ficar mais caros, pressionados não só pelo dólar, mas também pela guerra comercial e restrição de oferta.

No caso de commodities como soja e do milho, a valorização do câmbio traz ganhos de preço que devem ser suficientes para compensar o aumento nos insumos. Porém, a instabilidade da economia mundial afeta diretamente os preços das commodities e, por isso, pode, sim, haver muita oscilação de preços.

Já as culturas direcionadas para o mercado doméstico, além de não se beneficiarem da alta do dólar, ainda enfrentarão custos produtivos muito mais elevados na safra 2019/20, espremendo mais suas margens. É o caso, por exemplo, do algodão. Lembre-se que o mercado é muito dinâmico: se move e se reinventa constantemente. É importante ter flexibilidade de mudança nos processos e, principalmente, uma boa gestão para conseguir se adaptar a esse cenário.

Fonte: Aegro/Lavoura10

Crédito: DP Pixabay