A importância do primeiro ciclo de vacinação e vermifugação dos bezerros de corte

O protocolo sanitário da fazenda deve incluir a primovacinação de acordo com os desafios sanitários de cada propriedade e o controle efetivo das principais verminoses, sendo essencial para que a atividade seja mais lucrativa e sustentável ao produtor

O nascimento dos bezerros e os primeiros dias de sua vida são momentos desafiadores e de grande importância na produção animal.  Os manejos apropriados de nutrição e sanidade realizados durante a gestação da vaca são essenciais para que o bezerro nasça saudável. Da mesma forma, os cuidados necessários entre o nascimento e a desmama são de grande importância e contribuem para maior sustentabilidade ao negócio de cria do gado de corte.

Do nascimento até o final da fase de recria, a profilaxia contra parasitos e doenças infecto contagiosas tem um papel primordial para o seu desenvolvimento saudável, visando chegar à fase adulta capazes de expressar todo o seu potencial para a produção. Encerrada a fase de recria, os cuidados sanitários deverão continuar na fase adulta a fim de permitir produtividade e sustentabilidade.

Controle dos principais parasitas

“Entre o terceiro e o quinto mês de vida do animal é importante que ações básicas, como a vermifugação e a vacinação contra as principais doenças que acometem o gado, sejam realizadas. A vermifugação é feita com o objetivo de eliminar cargas dos principais vermes gastrointestinais que o animal possa ter adquirido nos primeiros meses de vida e que comprometem seu pleno desenvolvimento.

Já o protocolo que envolve as primeiras vacinações deve ser implementado, uma vez que a proteção colostral contra importantes doenças que podem acometer os animais começa a cair, aumentando os riscos de mortalidades das crias”, explica Marcos Malacco, médico-veterinário gerente de serviços veterinários para bovinos da Ceva Saúde Animal.

 O controle adequado das principais verminoses na cria possibilita melhor desempenho no ganho de peso, como foi demonstrado em trabalhos realizados pela Embrapa/CNPGC. Animais tratados com produto a base de Ivermectina concentrada, por volta dos 4 meses de idade, foram desmamados com cerca de 7 Kg a mais quando comparados a animais que não receberam o tratamento (Catto & Bianchin, 2004).

O médico-veterinário explica que as verminoses são doenças silenciosas, por isso o produtor precisa agir mesmo quando não existem sinais claros ou clínicos de que o bezerro está parasitado. “Os principais vermes que parasitam os bovinos em nosso meio são os vermes redondos, responsáveis por promover lesões inflamatórias nos intestinos e no estômago (abomaso) dos animais que interferem na digestão e absorção dos nutrientes.

Além disso, os parasitos adultos podem competir por alimentos, também causam lesões na parede interna desses órgãos, que têm que ser reparadas, havendo perda de nutrientes para isso. O maior problema é que a grande maioria dos casos de verminose nos bovinos é de manifestação subclínica, o que quer dizer que não é claramente demonstrado. Tudo isso afeta o desempenho e causa prejuízos que podem ser mitigados com um bom programa de controle, elaborado com a participação de um médico veterinário”.

Passada a fase de cria, um programa estratégico e efetivo para o controle das principais verminoses dos bovinos na fase de recria irá contribuir para melhor desempenho, precocidade e início da vida reprodutiva das fêmeas, e contribuindo para menor idade dos animais destinados ao abate, favorecendo o fluxo de caixa e antecipação do capital investido.

 Os endectocidas a base de ivermectina atuam contra as principais verminoses em todas as fases da produção e atuam no controle de infestações por importantes parasitas externos, como bernes e carrapatos. Estes parasitos externos promovem prejuízos devido a irritação dos animais, comprometendo o bem-estar e o consumo de alimentos, além de determinar lesões que facilitam a instalação de miíases (bicheiras). O carrapato ainda se destaca como transmissor da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), que pode determinar graves prejuízos.

“No calendário de controle antiparasitário, o principal objetivo é a prevenção de perdas provocadas pelos vermes gastrointestinais e os parasitos externos presentes nas propriedades, a fim de reduzir ao máximo os prejuízos à produtividade e ao bem-estar dos animais. Os endectocidas permitem um controle mais efetivo destes parasitos com um único produto. Nesse grupo de antiparasitários, destaca-se a ivermectina, princípio ativo contido no Ticson 3.5®da Ceva, com concentração de 3.5%.

Além disso, a formulação do produto permite rapidez para início de controle e proteção prolongada contra as principais parasitoses dos bovinos”, reforça Malacco. “O emprego do produto nas crias em torno dos 4 meses de idade e em programas de controle parasitário estratégicos integrados na recria, proporciona menor carga parasitária no ambiente (pastagens) e, consequentemente, nos animais, favorecendo a produtividade”.

Vacinações e seus reforços

Já quando o assunto é a vacinação, o produtor precisa estar atento principalmente às vacinas obrigatórias, como é o caso das vacinas contra a brucelose, febre aftosa (em algumas regiões) e raiva.

A imunização contra a brucelose com vacinas contendo a cepa B19 da Brucella abortus (Anavac® B19) deve ser realizada somente nas fêmeas bovinas e bubalinas entre 3 e 8 meses de idade, em dose única, por um médico-veterinário cadastrado na Defesa Agropecuária, responsável por garantir também a marcação de todos os animais vacinados e fornecer o atestado de vacinação ao produtor.

Pessoas treinadas por médicos-veterinários cadastrados, também cadastradas na Defesa Agropecuária regional, poderão vacinar os animais, entretanto o atestado da vacinação só é emitido pelo médico-veterinário. Da mesma forma, a vacina deve ser adquirida em pontos de venda cadastrados e com receita emitida pelo médico-veterinário cadastrado.

Com relação a raiva, nos herbívoros a doença é transmitida principalmente por morcegos que se alimentam de sangue nos animais (hematófagos ou “vampiros”). É uma enfermidade de desenlace fatal, sem tratamento eficaz e que também pode afetar os humanos (zoonose). Assim, a principal maneira de controle da doença é a vacinação.

De acordo com o Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH) do Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) a primeira dose da vacina nos animais jovens deve ocorrer aos 3 meses de idade, com necessidade de repetição de uma outra dose 30 dias após a primeira, sendo este procedimento denominado primovacinação. À critério do médico veterinário, a idade da 1ª dose em animais jovens pode ser antecipada.

Esse mesmo manejo de primovacinação deve ser criteriosamente seguindo em animais que nunca foram vacinados ou sem histórico de vacinação. Posteriormente as revacinações serão anuais e os critérios e calendário vacinal deverão ser seguidos nas regiões onde a doença ocorra.

Nas regiões onde a vacinação contra a febre aftosa ainda é obrigatória, todos os animais com até 24 meses de idade, incluindo bezerros, devem ser vacinados em maio e em novembro. As outras categorias do rebanho deverão obedecer ao calendário de revacinação anual determinado pelo Serviço de Defesa Agropecuária regional.

“O produtor precisa ficar atento com as primeiras vacinações e principalmente com o reforço anual, especialmente agora com a ausência da obrigatoriedade de vacinações contra a febre aftosa em várias regiões brasileiras, já que boa parte das fazendas, especialmente do gado de corte, aproveitava o calendário da Aftosa para a realização de outros reforços vacinais e o controle parasitário. A sanidade é um dos pilares para a produtividade e, consequentemente, para a sustentabilidade da pecuária bovina”, Malacco alerta.

Respeitando as particularidades de cada propriedade e regiões do Brasil, o protocolo sanitário da fazenda também deve levar em consideração as doenças endêmicas, podendo ser necessário a realização de vacinação contra Paratifo e Pasteurelose (Tifopasteurina®) entre os 15 e 30 dias de vida, com reforço 30 dias após a primeira dose nas crias. Além disso, as fêmeas gestantes devem receber uma dose da vacina cerca de 30 dias antes da data do parto previsto para que haja uma boa produção de anticorpos, que serão transmitidos através do colostro às suas crias.

Outras importantes enfermidades como que acometem os bovinos no Brasil são as clostridioses, incluindo o botulismo. São doenças com as mais diversas formas de manifestação, incluindo mortes súbitas no rebanho. Causam graves prejuízos nas diversas categorias do rebanho e surtos de mortalidades são comuns nas fazendas onde não haja um calendário sanitário preventivo.

A prevenção inicia-se com a aplicação de 2 doses com vacina polivalente (Botulinomax®), a intervalo de 30 dias entre elas. A partir daí, revacinações são necessárias a intervalos de 6 ou 12 meses, de acordo com o desafio local. Nas crias, a 1ª dose deve ser aplicada a partir dos 4 meses de idade, podendo ser antecipada de acordo com a indicação do médico veterinário, que é o responsável pela elaboração do calendário sanitário geral da propriedade.

Da mesma forma, em animais que nunca receberam a vacina e sem histórico vacinal, deveremos aplicar duas doses consecutivas da vacina, com intervalo de 30 dias entre elas.

“Cuidados com a sanidade dos bezerros refletem posteriormente na qualidade da produção da propriedade. Eles são o futuro do plantel, por isso é preciso olhar com maior atenção para as questões sanitárias nesta fase.

A saúde é talvez a premissa mais importante do bem-estar animal, e junto com a nutrição adequada garante a manifestação de todo o potencial genético, produtivo e reprodutivo daquele animal. Boa saúde dos bezerros é de fundamental importância para uma pecuária mais produtiva e sustentável”, finaliza.

Fonte:  Mayra Dalla Nora