A soja é o grão da prosperidade nacional?

O boom do agronegócio brasileiro começou com o rápido desenvolvimento da soja na Região Sul, nos anos 1960 e 1970. Nos anos 1980 e 1990, ela alastrou-se pelo que restava de áreas de lavouras na Região Sul e iniciou sua caminhada rumo à Região Centro Oeste, transformando o despovoado e desprestigiado bioma Cerrado no celeiro do Brasil.

O pesquisador da Embrapa, Amélio Dall’Agnol, ressalta que está correto denominar a soja como o grão da prosperidade brasileira, pois ele levou progresso às famílias, às cidades e aos estados onde ela se estabeleceu. E continua a investir sobre novas áreas no Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia, Pará e Rondônia, incorporando-as ao Brasil que deu certo. Há quem a responsabilize pelo desmatamento da Amazônia, o que é uma falácia.

As cidades e os estados onde a soja é amplamente cultivada experimentaram um crescimento mais robusto que cidades e estados onde a soja não constitui lavoura importante. Também, nessas localidades, o índice de desenvolvimento humano (IDH) cresceu acima da média nacional.

O Brasil começou tímido na produção de soja nos anos 40, quando figurou pela primeira vez nas estatísticas internacionais como produtor da oleaginosa, com modestos 25 mil toneladas. Chegou a 1.0 milhão de toneladas (Mt) em 1969 e 15 Mt no final dos anos 70.  Hoje (2019) produz mais de 115 Mt e é líder na produção mundial do grão, superando os Estados Unidos (EUA. No Brasil, a soja responde pela maior área cultivada entre os cultivos anuais e pelo maior volume de grãos produzidos. Também, lidera o montante de recursos gerados pelas exportações do país.

Dada a maior rentabilidade da soja frente a outros cultivos tradicionais da Região Sul, as áreas de lavoura historicamente utilizadas para outras lavouras, foram majoritariamente ocupadas pelo cultivo da oleaginosa até início dos anos 80 e as áreas com pastagens começavam, também, a ser exploradas para o cultivo de mais soja. O preço da terra explodiu, despertando o espírito empreendedor de uma leva de produtores, proprietários de áreas limitadas, a olharem para o Cerrado como uma opção para a expansão de suas atividades.

Muitos agricultores da Região Sul, pela necessidade ou pela oportunidade de ampliar a área de cultivo da oleaginosa venderam suas propriedades aproveitando o preço de oportunidade e migraram para o desconhecido bioma Cerrado, onde havia muita terra disponível e barata, mas ácida e infértil. Compraram ou arrendaram grandes glebas de Cerrado onde começou a saga que levou muitos deles ao status de grandes e bem sucedidos produtores de soja, milho e algodão, além de carnes. Graças à tenacidade e dinamismo desses pioneiros, o Cerrado deslanchou, não sem o importante apoio da pesquisa brasileira que tive êxito no desenvolvimento e na oferta de um conjunto de tecnologias que permitiram a domesticação desse bioma improdutivo: correção e fertilização do solo e desenvolvimento de cultivares adaptadas à produção em regiões tropicais de baixa latitude.

Atualmente, o Cerrado concentra a maior produção de grãos, fibras e carnes do Brasil e as terras deixaram de ser baratas e despovoadas. São tão valiosas quanto as do sul brasileiro. Graças à determinação e dinamismo desses empreendedores, cidades brotaram no meio do nada, algumas já ostentando a posição de verdadeiras metrópoles, como Rondonópolis, Primavera do Leste, Sorriso, Luiz Eduardo Magalhães e Sinop, entre outras.  Atualmente, as áreas de preservação ambiental convivem harmonicamente com campos de produção de soja, milho e algodão e o Cerrado evoluiu para tornar-se o principal centro produtor de alimentos e fibras do Brasil.

A soja é o grão cuja demanda mais cresce no mundo. De 1990 a 2017, as demandas por soja, milho, arroz e trigo – os quatro principais grãos – cresceram 207%, 108%, 46% e 36%, respectivamente, indicando que a demanda global pela soja cresceu quase o dobro do milho, o segundo colocado. A grande demanda tem origem, principalmente, no elevado consumo de proteínas animais (carnes, lácteos e ovos, entre outros) como consequência do explosivo crescimento da economia mundial a partir dos anos 80 e o consequente aumento da renda per capita das pessoas, as quais reduziram o consumo de grãos para incrementar o consumo de carnes.

“O Brasil já transitou pela revolução econômica representada pela exploração do Pau Brasil, seguido pelo ciclo da Cana de Açúcar, do Cacau, da Borracha e do Café, cultivos cuja produção e competição pelo mercado mundial envolve nações pobres. Agora, estamos transitando pelo ciclo da soja, cujo principal concorrente é os EUA, a nação mais eficiente na produção agrícola, onde nosso desempenho é comparável ao deles.  Soja é sinônimo de prosperidade. Em menos de meio século evoluiu de uma lavoura secundária para o principal produto comercializado pelo Brasil com o exterior. Em 2018, gerou US$ 41 bilhões em exportações”, diz Amélio.

Fonte: Agrolink Por Aline Merladete