É temporada de incêndio, mas agora também de drama

Por Fabélia Oliveira

– O que está acontecendo?? Incêndio?

– Sim.

– Mas é a primeira vez?

– Não, acontece todos os anos, nessa época.

– Mas por que tanto mimimi?

– Porque agora o governo é Bolsonaro.

Momento de ação do avião, no combate a incêndio na região de Rio Verde-GO

Senhores é tanto alarde, tanto falatório que parece que pela primeira vez na história do Brasil está ocorrendo incêndio em vegetação. Então podemos começar informando aos desavisados: isso ocorre todos os anos, e para falar bem a verdade, esse nem é o pior de todos. E você sabia que há inclusive momentos que se prevê que o caso será mais intenso??

Pois é, de acordo com os profissionais que estão sempre em ação (estou falando de profissionais e não de gente que combate incêndio via rede social) é comum quando fica uma temporada de 3 ou 4 anos sem que haja incêndios de grandes proporções que ele venha ocorrer, ou que em anos que a chuva se intensifica o seguinte certamente será de mais fogo. Sabe por quê?

Quando fica muito tempo sem fogo (não precisa ninguém colocar, tá bom?) ou a chuva se prolonga aumenta a massa de cobertura o que facilita a propagação das chamas que podem ter qualquer causa inicial, desde a criminosa, acidental à natural.

Como ocorrem os incêndios criminosos? São aqueles com objetivos específicos sem nenhuma autorização. Mas existem autorizações para incêndios? Sim, de acordo com necessidades específicas, por exemplo um treinamento de combate onde se coloca o fogo para mostrar e treinar a equipe em como controlar.

Os de causa natural tem combustão espontânea por causas diversas, mas com reações naturais. Eles também têm suas vantagens lá no meio ambiente, dentre eles o de equilíbrio populacional, pois é certo que morrem bichos e isso não vai dar prejuízo à natureza. Outro benefício está na germinação de sementes. Algumas espécies só germinam depois de serem submetidas a altas temperaturas (especialmente no cerrado, pois esse bioma pega fogo com muita facilidade, muitas sementes precisam desse processo e suas árvores tem casca e estrutura para suportar o calor do fogo).

Quais os prejuízos? Diversos. No campo de cultivo, seja agrícola ou pecuário, fica impossível fazer o levantamento exato do dano causado. O pecuarista que perde, para o fogo, sua pastagem, pode perder também alguns animais, encanação de seus bebedouros, cercas e etc. O agricultor pode ter áreas de sua cultura queimadas (soja, milho, trigo, cana etc) então nem precisa falar que o prejuízo é grande, né?

Mas sabe onde ainda está a grande preocupação do produtor rural?? Na pobreza que vai provocar ao seu solo. Sim, o produtor rural brasileiro aprendeu a construir solo, por isso que mesmo em áreas degradas ou empobrecidas ele consegue produção eficiente, pois ele recupera o solo. Quando falamos que ele recupera, não se trata de algo que alguém tenha estragado, estamos falando de um estado nativo que nunca foi privilegiado. É como se pegasse um cidadão anêmico por natureza e o transformasse em um grande competidor depois de anos de alimentação e treinamento especial. Aí quando ele está no auge de sua produtividade é sequestrado e deixado em condições sub humana voltando ao estado natural de sua anemia.

É assim com o solo. O produtor investe em adubação verde, massa de cobertura, palhada… e de repente tudo se queima. O prejuízo é imediato, já na primeira safra. Para evitar esses problemas, com uso de tecnologia de informação, grupos de whatsapp são criados com moradores das regiões para que quando um foco inicia toda a vizinhança seja informada e se junta com máquinas, equipamentos, caminhões e funcionários com um único objetivo: apagar o fogo.

No Sudoeste Goiano essas brigadas estão ficando tão eficientes que já criaram até aérea. Um grupo de produtores faz uma reserva financeira mensal para que mantenha avião e piloto a postos para qualquer emergência. Em não acionando, o custo fica menor. A sobra do recurso do fundo, ao final da temporada, é encaminhada para uma instituição social definida pelo grupo (eles consideram que já foi lucro não usar aquela verba).

Mas quando esse fogo ocorre em vegetação de cerrado ou mata ou floresta sempre dá mais trabalho. A altura da mata contribui para dificultar qualquer manejo.

Dizer que a floresta Amazônica é pulmão do mundo é clichê de idiota, pois qualquer um que estudou, além das aulas de estudos sociais da segunda série do ensino fundamental, já aprendeu isso e com essas pessoas não dá para discutir. Sobre o aquecimento global as pessoas ainda vão levar alguns anos para saber que já vamos entrar na fase de resfriamento global (também deverá ser culpa dos produtores rurais, né? Pena que nem todos têm interesse em ouvir ou estudar ou pesquisar, especialmente com cientistas do nível do professor Molion).

Nesta semana (de 24 de agosto) um vídeo de um homem que se apresenta como médico em Vilhena-RO ganhou espaço nas redes sociais quando ele mostra o céu azul da cidade às 18h e diz que mora por lá desde 1979 e que já viveu anos piores.

Quanto a isso eu posso assegurar que ele está coberto de razão. Entre 1975 e 1990 eu morei em Colorado do Oeste-RO, fica a mais ou menos 80km de Vilhena. Sim, tínhamos o costume de esperar pelo mês de agosto prontos para vermos o sol alaranjado ou o dia parecendo que sofria um eclipse solar em pelo meio dia ou às três da tarde.

O ano de 1986 (acho que não estou equivocada) foi particularmente marcante para nós moradores de Colorado. Naquele ano, no mês de agosto, já tínhamos as queimadas na vegetação (vale lembrar que naquele tempo as serrarias – atividade intensa para a época, ainda queimavam os restos de madeira – verdadeiras preciosidades hoje, como forma de limpeza dos pátios) ocorreu um crime na cidade quando uma moça (Édma*) foi estuprada e morta por um integrante de um parque de diversão que estava ali instalado.

Após o encontro do corpo, logo a polícia chegou ao criminoso. A população se revoltou e foi para a porta da delegacia para linchar o assassino. Como não consegui acesso ao rapaz começou a colocar fogo em tudo, começando pelo parque, veículos do dono do parque, animais, lonas, enfim, tudo o que era referente àquele empreendimento foi queimado, incluindo alguns prédios públicos. Claro que no dia seguinte a cidade inteira estava de olhos vermelhos, ora pelo choro de tudo o que tinha acontecido (incluindo a morte de um pai inocente durante os protestos), ora pela fumaça. A partir daquele ano, todo dia que estava enfumaçado, a memória era a mesma: “nossa…. está parecendo a morte da Édma”.

Hoje o incêndio que se tem na Amazônia é bem menor do que o que estão causando através da desinformação e dos objetivos políticos para destruir o Brasil. Não se esqueça que esta Nação não é do Bolsonaro, é dos Brasileiros, como você e eu. Cada vez que alguém tenta denegrir a imagem de um governo que está buscando o acerto e o crescimento do país, está atrasando os nossos sonhos.

Mas vamos encerrar o assunto. Quando você vê uma brigada de combate a incêndio florestal ou de qualquer tipo de vegetação, quem você acha que trabalhou, financiou ou montou? Um grupo de produtores rurais ou uma ONG?

Muitas vezes fogo se combate com fogo. Para quem entende, entendeu.

*Familiares e amigos mais próximos, perdoem-me se a memória não me trouxe o nome correto daquela vítima.

Fabélia Oliveira – apresentadora do programa Sucesso no Campo/TV Climatempo

Crédito: Brigada Aérea – Rio Verde-GO