Estudo é capaz de baratear produção da celulose bacteriana

Um trabalho desenvolvido pela Embrapa pode reduzir consideravelmente o custo de produção da celulose bacteriana, um polímero natural considerado nobre, mas ainda subexplorado industrialmente. Os cientistas substituíram o insumo mais caro, o meio de cultura sintético, por um de fermentação à base de melaço de soja, obtendo ótimo rendimento em laboratório.

Os resultados animaram os pesquisadores pela possibilidade de se ampliar a utilização da celulose bacteriana em ramos industriais que atualmente não poderiam incorporar um insumo de custo tão elevado. A expectativa é uma redução de até 70% no custo. Mas isso ainda será avaliado em um novo estudo com produção em larga escala.

A celulose bacteriana é produzida por microrganismos a partir de um meio de cultura rico em carboidratos. Quando comparada à celulose vegetal, apresenta inúmeras vantagens: é mecânica e fisicamente mais resistente, é pura (livre de lignina e hemicelulose), pode ser moldada durante o cultivo em estruturas tridimensionais, apresenta alta porosidade, excelente poder de absorção, elevado grau de cristalinidade e biocompatibilidade. Essas características fazem do material um insumo interessante para aplicação nas áreas de medicina, farmácia, cosmética e nas indústrias alimentícia, têxtil e de eletrônicos.

“É um material único, muito versátil, mas o custo de produção limita o aproveitamento a áreas com alto valor agregado, como a biomédica”, explica a pesquisadora Morsyleide Rosa, membro da equipe da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) que desenvolveu o estudo.

Há anos os pesquisadores buscam meios de cultura de baixo custo para aumentar a competitividade do material. Uma das apostas foi o aproveitamento de fontes agroindustriais. Assim, seria possível promover um destino mais nobre a subprodutos da agroindústria, além de reduzir impactos ambientais.

Com o melaço de soja, o rendimento obtido em laboratório foi similar ao de meios de cultura sintéticos: uma produção ao redor de sete gramas por litro após dez dias de cultivo. Esse rendimento foi obtido com um meio de fermentação em que os carboidratos originais do melaço de soja foram quebrados em moléculas menores (hidrolisados) e suplementados com etanol. Segundo a pesquisadora Fátima Borges, parte dos carboidratos presentes não são metabolizáveis pelas bactérias produtoras do biopolímero, por isso foi necessário proceder a hidrólise para aumentar a disponibilidade de açúcares facilmente fermentáveis.

“Essa formulação mostrou rendimento similar aos meios sintéticos a custos consideravelmente menores, o que faz do melaço de soja uma fonte muito favorável para o processo fermentativo de produção em larga escala de celulose bacteriana”, diz a pesquisadora.

A pesquisadora da Embrapa Morsyleide Rosa lembra que a cadeia de soja é organizada e que o material estabilizado permite transporte e armazenamento sem problemas. “O melaço de soja é um meio de cultura barato, estável e abundante”, acrescenta. Subproduto da indústria de proteína de soja, o melaço é aproveitado na produção de rações. Na opinião dos pesquisadores, a produção de celulose bacteriana seria uma destinação mais nobre.

O estudo contou com a colaboração da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que atuou, principalmente, na seleção de microrganismos.

Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical Por Verônica Freire