Maior produtor de cana orgânica do mundo defende associação entre folhas e micro-organismos para afastar nematoides

O manejo de nematoides em cana-de-açúcar orgânica foi debatido durante o 37º Congresso Brasileiro de Nematologia

Um dos maiores produtores de cana-de-açúcar orgânica do mundo, Leontino Balbo Júnior, levou 35 anos para modificar 20 mil hectares de cana convencional para o que ele chama de agricultura revitalizadora de ecossistemas (ERA). A conversão da lavoura para o orgânico não é um processo simples, levou décadas de estudos até chegar a um modelo limpo de produção. “No começo disseram que eu era louco”, conta Leontino.

Este case inspirador abriu o painel “Manejo de nematoides em cana-de-açúcar orgânica”, durante o 37º Congresso Brasileiro de Nematologia 2022, que aconteceu em Ribeirão Preto, de 1º a 4 de agosto. Além de Balbo, o painel teve a participação do agricultor e consultor Daine Frangiosi, de Campo Florido (MG), e do pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC-Cana), Denizart Bolonhezi.

O produtor Leontino Balbo é engenheiro agrônomo e diretor das Usinas São Francisco e Santo Antônio e da Produtos Orgânicos Native, em Sertãozinho (SP). Ele desenvolve hoje o maior projeto de agricultura orgânica do mundo, em 20 mil hectares de canaviais certificados (são 25 certificações). Além de abastecer o mercado interno, o produtor processa a cana e vende o açúcar orgânico para 74 países, com a marca Native, líder de açúcar orgânico no mundo.

Na palestra do 37º CBN, Balbo enfatizou como a restauração da bioestrutura ativa do solo leva a planta a ativar um modo fisiológico para constituir seus tecidos com proteínas longas e complexas. “Esse modo deixa as plantas mais resistentes e difícil de serem atacadas por bactérias e insetos, porque elas são nutridas e alimentadas de forma natural”, explica Balbo.

Ele acrescenta que as plantas que recebem adubos químicos, inseticidas e herbicidas, precisam eliminar essas substâncias e isso gasta energia. “Com esse gasto de energia, as plantas constituem seus tecidos com moléculas de proteínas curtas, que podem ser digeridas por fungos, insetos, bactérias. “A planta fica transpirando açúcar, nitratos e aminoácidos, diferente da planta que está no meio natural. Os insetos têm um aparato sensorial químico muito forte”, complementa.

Em relação aos nematoides, Balbo diz que as empresas que vendem biodefensivo já oferecem alguma bactéria ou fungo que ajudam a controlar, mas ele recomenda o uso como última medida, uma forma de combater a consequência.

“É possível fazer a prevenção de nematoides só pelo manejo, deixando muita matéria orgânica no solo, formada pela palha da cana e ainda micro-organismos e animais. A matéria orgânica é essencial para combater infestações de nematoides”, afirma.

Há 35 anos, Leontino Balbo começou a buscar um modelo mais limpo de produção, inconformado com as queimadas dos canaviais. A primeira certificação orgânica foi conquistada há 25 anos. Hoje ele já acumula 25 certificações, podendo exportar seu produto para o mundo.

Native – A Native produz 100 mil toneladas de açúcar orgânica ao ano, sendo que 70% desse total seguem para o exterior.

O produtor e consultor Daine Frangiosi destacou que é preciso enxergar o setor da cana com olhos voltados para o manejo biológico. O manejo da cultura é essencial para se obter maior produtividade. Isto abrange saber escolher bem as variedades, utilizar de forma correta os produtos químicos e biológicos, para deixar a cultura mais equilibrada, olhar o momento ideal do plantio, além de fazer rotação com outras culturas para melhorar o solo. “A rotação com a soja pode render 10 toneladas a mais no outro ciclo da cana. O caminho é a adoção de tecnologias mais resistentes e uso de biológico, além do manejo fisiológico para obtermos equilíbrio e tornar a cana mais eficiente”, disse.

Adepto de inovações e práticas sustentáveis, Frangiosi mantém mais de 50 experimentos agrícolas em sua propriedade, com 4.400 hectares, localizada em Minas Gerais. Há também um campo com mais de 100 clones promissores de cana-de-açúcar.

O pesquisador do IAC, Denizart Bolonhezi, mostrou as vantagens da rotação de culturas, com foco na soja, como forma de conservar melhor o solo. “O aumento da camada vegetal otimiza a infiltração de água no solo, diminuindo a ocorrência de erosões. Outro fator positivo é o aumento do teor de matéria orgânica, que favorece o desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio. A fixação do nitrogênio contribui para a diminuição da contaminação dos solos e das águas, reduzindo o uso de fertilizantes e diminuindo gastos com culturas subsequentes.

38º CBN – A próxima edição do Congresso Brasileiro de Nematologia será realizada em Cuiabá (MT), entre 21 e 24 de agosto de 2023. A nova data foi definida durante Assembleia da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) que ocorreu na última quarta-feira (03/08), durante a edição deste ano, em Ribeirão Preto (SP).

Fonte: Conexão Agro