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Medição industrial favorece segurança alimentar

Por Madjid Ouali*

Ainda que, muitas vezes, distante do nosso pensamento a relação do quanto a ciência e a tecnologia são necessárias para que possamos satisfazer o apetite e saciar a fome, as inovações se tornaram condição determinante para suprir as necessidades do homem e promover o dinamismo e o crescimento econômico. Na agricultura e na cadeia da indústria de alimentos, as inovações tecnológicas têm nos beneficiado à medida que propiciam redução de custos, aumento da produtividade, resistência a pragas, a doenças e a condições climáticas adversas, contribuindo para uma maior oferta de alimentos.

Apesar dos avanços, inegáveis, são recorrentes também os desafios de como fortalecer a perspectiva de segurança alimentar mundial, em meio a milhões de pessoas em situação nutricional vulnerável.

A preocupação vem de um Relatório Global divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Crises Alimentares 2022. Segundo o documento, em 2021, ao já alarmante número de 135 milhões de pessoas enfrentando a insegurança alimentar aguda registrado em 2019, nos 53 países mais necessitados de assistência, somaram-se 58 milhões de pessoas. Outras quase 40 milhões, em 36 países, experimentaram níveis de emergência de insegurança alimentar que precedia a situação de fome.

Um alento nesse cenário de incerteza coloca o Brasil como protagonista no combate à fome, por seu potencial agrícola. O país se juntou a outras 35 nações para assinar o compromisso de um Roteiro para a Segurança Alimentar Global, no intuito de agir com urgência e responder às necessidades emergentes de segurança alimentar e nutricional, fornecendo assistência humanitária e apoiando redes de proteção social que possam fortalecer ecossistemas alimentares sustentáveis.

Mas como, a certa altura de desenvolvimento, é possível dar o passo adiante e continuar uma escalada que implique no acréscimo da oferta de alimentos? E como aumentar a produção sem incorporar novas áreas à atividade produtiva? Qual o esforço necessário a integrar o processo produtivo para compensar conflitos, eventos climáticos – como secas e enchentes -, pandemias, choques econômicos entre outras adversidades, e afastar a perspectiva sombria da fome já experimentada por muitos?

Uma resposta pouco óbvia e altamente tecnológica passa pela medição industrial. O processo, secundário à atividade principal, seja no setor agrícola ou na indústria, tem por fim o controle contínuo de parâmetros necessários para melhorar a resiliência da operação, ampliar a eficiência da planta industrial e proteger a continuidade dos negócios.

A tecnologia por trás dos alimentos 

O setor de alimentos demanda uma atenção especial em relação à gestão da produção, conferindo à tecnologia de medição papel de destaque em todas as etapas do funil produtivo de uma indústria leve ou pesada, da agricultura, processamento ao varejo.

Na agricultura, o monitoramento de dióxido de carbono (CO2), da umidade relativa e da temperatura definem as condições em estufas e instalações agrícolas verticais, assim como dentro de instalações pecuárias para alcançar um novo nível de produção agrícola primária.

Em estações com menor insolação, o uso do dióxido de carbono em estufas, por exemplo, pode aumentar a produtividade em até 40%. Sistemas automatizados em estufas que controlam e ajustam automaticamente a concentração de dióxido de carbono podem ser equipados com uma sonda e contribuir para o ótimo crescimento das espécies cultivadas. Com a concentração certa de dióxido de carbono, as plantas podem produzir frutos mais cedo do que o normal. Esse tipo de fertilização não produz subprodutos tóxicos e não cria umidade excessiva, apenas plantas saudáveis e com bom rendimento.

Na indústria de alimentos, por sua vez, o controle de qualidade do processo e do produto tradicionalmente se dá com a coleta manual de amostras para análise laboratorial – um procedimento caro e moroso que resulta em um atraso significativo entre a amostragem e a disponibilização do resultado. Ademais, qualquer produto fora dos padrões aceitáveis provavelmente percorreu o processo antes que um alarme pudesse ser acionado, e isso certamente implica em desperdício significativo do produto assim como eventuais problemas para o consumidor.

Outro exemplo de eficiência está na automação da medição de umidade na secagem de alimentos. Quando a umidade é removida a um nível seguro, a secagem pode impedir o crescimento e a reprodução microbiana, reduzir as reações bioquímicas induzidas pela umidade e diminuir os custos de embalagem, armazenamento e transporte. A secagem adequada também prolonga a vida útil dos produtos e a medição exata da umidade ajuda a alcançar o equilíbrio entre o volume de entrada e o tempo de secagem ideal para minimizar o uso de energia e manter a qualidade. A secagem sustentável, usando dispositivos de medição precisos para controlar o processo, se converte, portanto, em uma maneira econômica de melhorar a qualidade e o rendimento dos alimentos. Uma empresa de laticínios pode aumentar a capacidade de produção em 20% sem aumentar o consumo de energia, apenas atualizando os controles do secador.

Essa tecnologia para o controle e o monitoramento, em tempo real, de parâmetros sensíveis – como temperatura, umidade, pressão, fluxo de ar, CO2 – em ambientes que lidam com produtos que precisam preservar qualidades microbiológicas é crucial, pois garante a preservação adequada dos alimentos, o amadurecimento oportuno de frutas e hortaliças e a variedade sazonal para segurança no armazenamento, na logística e no consumo.

As aplicações vão de sondas inteligentes, transmissores e registradores de umidade a sistemas completos de monitoramento contínuo e são estratégicas para a melhora da produtividade, conformidade, antecipação de problemas, redução do desperdício, de consumo de água e de custos operacionais, para reduzir riscos associados à atividade produtiva.

Além do monitoramento de tendência de temperatura, umidade e outros parâmetros em tempo real, há equipamentos dotados de alertas enviados por SMS, alarmes locais e e-mails, relatórios customizados, sendo que todos os recursos são escaláveis de um para milhares de dispositivos e sensores e com registro confiável e redundante executado em paralelo aos sistemas de controle para validação simplificada.

A aferição de variáveis que possam interferir ou mesmo comprometer o processo de produção também é condição determinante para diminuir a volatilidade do mercado global de alimentos e as ameaças que põem em xeque a segurança alimentar no planeta.

Madjid Ouali, Diretor da Vaisala para America Latina e Caribe.*

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