Mundo VUCA exigirá desconstrução de mindset e inovação nas empresas

O mundo previsível e linear que conhecíamos já não existe mais. Ele está se tornando cada vez mais um mundo VUCA (sigla em inglês para volátil, instável, complexo e ambíguo) e inovar exigirá a desconstrução de mindset, que pode ser compreendido como as crenças e memórias de longo prazo que estão guardadas em nosso cérebro e atuam como filtros. É o que alertou Solange Mata Machado, professora associada da Fundação Dom Cabral (FDC), acerca do cenário atual e pós-pandemia de Covid-19.

Solange abordou o tema durante uma webinar do “Comite de Presidentes e Dirigentes PAEX” da escola de negócios FDC, que tem o Grupo Valure como associado em Mato Grosso.

Conforme Solange, a neurociência explica que temos um cérebro linear, porém vivemos com mais velocidade num mundo não linear. “As pessoas até dizem que são ‘conscientes e racionais’, mas a verdade é que somos seres quase completamente inconscientes. Cerca de 95% do que aprendemos e consolidamos ao longo da vida está guardado no inconsciente (e não sabemos que sabemos). Isso parece suficiente para dar respostas a um mundo incerto e ambíguo?”.

Ph.D. e pós-doutora em neurociências e inovação, Solange pondera que a pandemia já trouxe impactos – inclusive, no universo dos negócios. “Antes, inovação era o que as empresas criavam e empurravam ao consumidor. Hoje, o cliente é que muda de hábito e as empresas correm atrás para entregar um novo valor. Vamos ter que aumentar nossa percepção e pensar rapidamente sobre como trazer essas mudanças de mercado para dentro dos negócios”.

Solange reforça que a única certeza que existe também é o grande desafio: viveremos um mundo “contactless” (sem contato). “Mudanças irão acontecer em áreas como macroeconomia, regulação, tecnologia, comportamento humano, geopolítica e dinâmicas da indústria. Essas regras irão chegar de cima para baixo. Tudo para minimizar o encontro – o contato humano. E por qual motivo isso é tão difícil para gente? Estamos favorecendo muito pouco a ruptura de mindset”.

A professora destaca que a inovação requer dois tipos de mindset: o fixo e o de crescimento. “Um irá consolidar e tornar mais produtivo o processo – otimizando o hoje. Enquanto o outro irá enxergar e implementar a transformação do amanhã. A partir de agora, é preciso ter um pouco de cada. Ter ambidestria para antecipar o mercado e se reinventar. Isso exigirá equipes diferentes para olhar esses dois lados. Até porque nosso cérebro, por vezes, é muito limitado a um mindset”.

De acordo com Solange, as empresas podem criar comitês e indicadores. “Em geral, as empresas costumam criar indicadores para performance, mas não observam a ambidestria ou os paradoxos (como a otimização e a inovação). Vale a pena criar um grupo voltado ao mindset fixo e outro ao mindset de crescimento. Cada grupo terá pessoas diferentes, com características e circuitos neurais distintos. Se não reconhecer essas pessoas na própria empresa, traga ajuda de fora”.

MUDANÇA DE MINDSET – Segundo Solange, mudar o mindset é possível, mas exige foco. “Criamos neurônios até o último dia de nossas vidas e eles são usados para o aprendizado. Mas, um adulto só aprende com o sistema de atenção ligado. É preciso acionar intencionalmente o foco, ter um componente emocional (que entende aquilo como relevante), ocorrer prática/repetição e também aplicabilidade de conhecimento (relacionando com outras vivências). A primeira vez que tentar será difícil, mas a flexibilidade mental é um esforço contínuo”, aconselha.

Fonte: ZF Press