Senar Goiás auxilia na defesa sanitária da produção agrícola

 

Pragas da safrinha: curso oferecido pelo Senar Goiás auxilia na defesa sanitária da produção agrícola

Para quem finalizou ou está finalizando a colheita da primeira safra, essa é uma boa hora para adotar técnicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) para evitar que os problemas presentes no sistema de soja reduzam a produtividade do milho safrinha.

A recomendação é do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), que está oferecendo o curso gratuito de Manejo Integrado de Pragas no Sistema Soja e Milho.

O curso capacita produtores e trabalhadores rurais a monitorar a população de insetos-praga nas plantações de soja e milho, bem como implantar técnicas de controle que minimizam os danos econômicos às duas culturas. As inscrições podem ser feitas pelo portal do Sistema Faeg Senar ou no Sindicato Rural do município.

Os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também defendem a disseminação de práticas preconizadas pelo MIP e ressaltam que, como o plantio da soja no Cerrado antecede o do milho, é importante identificar, o quanto antes, a praga-alvo que está presente na lavoura, pois quanto maior o número de plantas atacadas, o tempo de alimentação e o número de insetos por planta, maior também será a queda na produtividade. Eles ressaltam que para evitar as perdas e, consequentemente, a lucratividade, é necessário interromper o ataque o quanto antes.

De acordo com a Embrapa, o MIP consiste em um sistema que associa os conhecimentos tanto do ambiente como da dinâmica populacional da espécie-alvo e utiliza todos os métodos e técnicas apropriadas para manter a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico. Segundo dados da instituição, as técnicas alternativas usadas no MIP permitem a condução da lavoura por meio de táticas sustentáveis de controle de pragas (que incluem o uso racional de inseticidas), que são aplicadas apenas quando necessárias e economicamente viáveis.

O instrutor do Senar Goiás, Estevão Rodrigues, explica que como o plantio do milho safrinha no Cerrado está sendo feito fora da janela devido ao atraso na colheita da soja em todo Estado, é importante combater corretamente as infestações para evitar perdas na produtividade e prejuízos financeiros. Mestre em produção vegetal, Estevão afirma que algumas das pragas iniciais que ocorrem no milho são oriundas da soja. Ele destaca atenção à presença e propagação de três pragas: o percevejo de barriga verde (Dichelops spp), que ocorre no final do ciclo da soja; a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), que é um vetor de doenças; e, a mais relevante, Spodoptera frugiperda, mais conhecida como lagarta do cartucho do milho.

Percevejo de barriga verde: o sugador

O instrutor mantém uma estação de pesquisa, em Rio Verde, e diz que a presença do percevejo de barriga verde tem aumentado de forma preocupante na lavoura. “É o que identificamos como praga de sistema. Ele ocorre no final do ciclo da soja, suga a vagem da oleaginosa e quando este grão é colhido permanece no solo. É um inseto sugador que causa dano físico, porque perfura a planta do milho no início do desenvolvimento”, pontua.

“Durante o ato de sugar a planta, o percevejo saliva ao lado do local onde faz a perfuração do milho e com isso transmite toxinas para a planta que desregulam o desenvolvimento do milho, ocasionando, entre outros problemas, o perfilhamento e o enrolamento de folha”, acrescenta. As toxinas transmitidas pelo percevejo provocam danos severos, como a redução do tamanho das espigas.

Estevão ressalta que, nas últimas safras, a comunidade científica tem observado um grande aumento da espécie na palhada da soja, em áreas que vão receber o plantio do milho. O instrutor do curso destaca que esta presença, no início da semeadura, prejudica tanto o desenvolvimento da planta atacada, quanto das que estão próximas, porque a planta atacada tenta exercer a dominância.

O instrutor explica que, durante o curso do Senar Goiás, o produtor aprende a fazer o monitoramento para identificação de pragas. “A melhor forma para identificação é fazer monitoramento, através da entrada direta na lavoura. Pode ser com utilização de pano de batida ou até mesmo amostragem visual das plantas semanalmente”, indica Estevão.

Cigarrinha-do milho: vetor de doenças

Estevão define a cigarrinha-do-milho como “pequena indesejável”. O professor destaca que a presença da praga tem crescido nas lavouras brasileiras, principalmente no Cerrado durante a safrinha. “Além de danos diretos que causa às lavouras, o inseto pode ser vetor de doenças, podendo transmitir dois micro-organismos denominados molicutes, o Spiroplasma Kunkelii, agente que causa a doença conhecida como enfezamento pálido (CornStunt – Espiroplasma), e o fitoplasma (Maize Busch Stunt Phytoplasma – MBSP) no milho”, explica.

Além destas doenças, segundo ele, a cigarrinha transmite um vírus para as plantas sadias, conhecido como Risca, o qual tem gerado grande prejuízo aos produtores que cultivam o milho em segunda época. De acordo com o pesquisador, os produtores, especialmente no Cerrado, têm discutido a eficiência do manejo químico da praga. Ele aponta que em área do Sudoeste Goiano já estão sendo testados os resultados de MIP para controle da presença da cigarrinha.

Spodoptera frugiperda: a agressiva lagarta do cartucho

A pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cecília Czepak, destaca que o produtor também precisa ficar atento ao percevejo marrom e à Spodoptera frugiperda. De acordo com Cecília, a lagarta conhecida como lagarta do cartucho do milho, até então de ocorrência apenas nas Américas, foi detectada na África, em 2016, e atualmente sua presença já foi registrada também na Oceania, onde tem trazido grandes problemas.

A dificuldade no controle da Spodoptera, segundo ela, ocorre porque é uma lagarta altamente destrutiva e que pode atacar inúmeras culturas, podendo causar problemas inclusive em relação a falta de alimentos básicos no cenário mundial, pois o milho, base da alimentação de diversos povos, é afetado de forma significativa.

Ela explica que as lagartas são insetos mastigadores que, em geral, danificam a parte aérea, no caso as folhas (desfolha), com redução da área fotossintética e consequente redução na produtividade. Porém, o cenário atual com a maior incidência das lagartas, como Helicoverpa e complexo de Spodoptera – que são lagartas mais agressivas – causam danos na parte vegetativa e, também, na parte reprodutiva da planta como flores, vagem e espigas, tornando o dano bem maior.

Já Estevão acrescenta que a Spodoptera frugiperda pode ocasionar prejuízo do início do plantio até a colheita do milho, porque essa espécie de lagarta, como o próprio nome sugere, interfere no cartucho. “A Spodoptera costuma ficar escondida dentro do cartucho. Então, além da desfolha, ela dificulta o controle porque o acesso ao cartucho é difícil tanto para pulverizações de agentes biológicos quanto de químicos”, justifica. “Quando o milho começa a formar espiga, ela se alimenta do cabelo que iria ser transformado em grão de milho. Isso ocasionando falhas na espiga, reduzindo o número de grãos. Além disso, o orifício na espiga proporciona a entrada de fungos e bactérias que ocasionam outras doenças.”

 Curso de Manejo Integrado de Pragas no Sistema Soja e Milho do Senar Goiás 

Carga-horária: 16 horas (aulas presenciais)

Objetivo: capacita profissionais para monitorar a população de insetos- praga nas plantações de soja e milho, buscando implantar técnicas de controle e minimizar danos econômicos às culturas soja e milho.

As inscrições podem ser feitas no Sindicato Rural do seu município, basta ter idade mínima de 18 anos, ou pelo portal do Senar Goiás

http://www.sistemafaeg.com.br/senar

Os prejuízos da H. armigera

A professora Cecília Czepak, da UFG, liderou um projeto de pesquisa sobre a presença da H. armigera em Goiás, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). Ela conta que a lagarta é considerada uma praga quarentenária que ataca várias culturas. “A praga foi identificada e notificada oficialmente em 2012, mas sabíamos que ela estava presente há mais tempo no Brasil. É uma praga exótica, isto é, até então não existia no País”, ressalta.

Em Goiás, a praga tem uma frequência muito grande em tomate, soja, algodão e milho, principalmente na fase reprodutiva. “Causou vários problemas quando entrou no Brasil, com relação à produtividade, porque a lagarta tem hábito de se alimentar da parte reprodutiva das plantas. Na soja, ela ataca com voracidade os grãos”, explica. “Com o passar dos anos, avançamos nas pesquisas e, atualmente, temos ferramentas para redução dessa população de forma a manejá-la sem que nos cause danos maiores. Uma delas é o uso de sementes com tecnologia Bt tanto na soja como no algodão.”

Cecília informa que a preocupação continua grande, porque em cultivos como tomate e feijão não há tecnologia Bt disponível, e ela continua bastante frequente, sendo alvo de inúmeras aplicações. “Não podemos baixar a guarda. Essa lagarta é resistente e já causou danos e prejuízos financeiros em várias partes do mundo. Ela pode desfolhar inicialmente, mas sua importância maior está na fase reprodutiva, atacando frutos e flores de forma irreversível.

A professora alerta que é muito importante os envolvidos na cadeia produtiva irem ao campo, monitorar as áreas, identificar a praga e quantifica-la. Além disso, diversificar o controle nas diferentes fases das plantas para reduzir a população, isto é, adotar o MIP (Manejo Integrado de Pragas). “Esse acompanhamento ajuda o produtor a tomar as decisões assertivas em relação ao controle, com uso de ferramentas discriminadas especificamente para cada área afetada. É fazer ‘o certo’ e não o fácil, como por exemplo: escolher entre as melhores tecnologias disponíveis e aplicá-las sem impactar o meio ambiente. E com isso, ao utilizar de forma discriminada os inseticidas o meio ambiente não será impactado”.

Cecília orienta os produtores a buscar novas ferramentas disponíveis, além da tecnologia Bt, como o controle biológico feito por meio de aplicação de vírus específicos, liberações de Trichogramma, parasitoide amplamente produzido por várias biofábricas nacionais e multinacionais e por fim a adoção de atrativos alimentares, essas e outras ferramentas podem auxiliar em muito o MIP.

Controle fitossanitário conjunto

A gerente de Sanidade Vegetal da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), Daniela Rézio, reforça que o controle fitossanitário é uma tarefa conjunta, que envolve produtores, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), órgãos estaduais de controle fitossanitários e representantes das Secretarias de Agricultura, além de entidades de pesquisa e instituições representativas do agronegócio. “A relevância da atuação coletiva ficou evidente quando Goiás identificou a presença da lagarta Helicoverpa armigera”.

Considerada uma praga quarentenária que ataca várias culturas, a H.armigera causou prejuízos significativos no Brasil e no mundo. Os danos estimados nas regiões mais afetadas foram representativos, sendo na soja perdas estimadas de 30% a 40%; no algodão variando de 25% a 30% de perdas e no milho com estimativa de 3% a 5%. No Oeste Baiano, região mais afetada na safra 2012/2013, pela dificuldade de controle e desconhecimento da lagarta, estimaram-se perdas de aproximadamente R$ 1,7 bilhões.

As estratégias contemplaram canais para envio de informações, procedimentos para o monitoramento e controle da praga, além dos mecanismos de controle da aquisição e as recomendações para o uso de defensivos químicos nas lavouras.  “Diferente de outros países, o Brasil não tem um plano geral nacional com todas as pragas e sim, vários programas com normativas federais que estabelecem as pragas quarentenárias e as de importância econômica para o País, as culturas a serem protegidas e os parâmetros gerais para mitigação de riscos, principalmente no atendimento aos requisitos fitossanitários para promover o agronegócio e estimular a exportação de alimentos”, esclarece.

Em Goiás, a Agrodefesa disponibiliza um resumo dos programas de sanidade vegetal para prevenção e controle das pragas que estão afetando a produção agrícola em Goiás. As regras abrangem o calendário de semeaduras, os prazos específicos para cadastro da lavoura e a data limite para destruição dos restos culturais após a colheita, além dos períodos de vazio sanitário que visam baixar a população de pragas evitando que estas disseminem e contaminem as novas safras. Baseia-se em um conjunto de práticas destinadas a prevenir e impedir a entrada de novas pragas no Estado e a controlar ou erradicar pragas já presentes, capazes de provocar danos econômicos às lavouras e pomares, especialmente as que detêm importância econômica e social.

Esclarecimento de dúvidas e registro de ocorrências:  [email protected], (62) 3201-3580 ou ramais 3579 ou 3578. A Agência também possui um telefone gratuito para denúncias que é o 0800-646-1122.

Fonte: Faeg/Senar