Os desafios da sanidade avícola

O Programa Nacional de Sanidade Avícola completou 25 anos em maio.  Ao longo dos últimos anos, o Fundesa vem contribuindo com o Programa de diversas formas. Uma delas é atuando no financiamento da capacitação de técnicos do Serviço Veterinário Oficial, através da participação em cursos e eventos relacionados à sanidade avícola. Foi também com recursos do Fundo que foi adquirido um super freezer, indispensável ao recebimento e conservação de amostras de material biológico direcionado a exames laboratoriais. Estes e outros investimentos em insumos e equipamentos ajudaram o Programa gaúcho a ter destaque no cenário nacional.  A equipe de comunicação do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal conversou com a coordenadora do PNSA na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Flávia Borges Fortes. Ela fala sobre a evolução da sanidade no plantel avícola brasileiro e os desafios do setor no Rio Grande do Sul.

Fundesa- O que representa para a avicultura brasileira o marco de 25 anos do Plano Nacional de Sanidade Avícola?

Flávia Borges Fortes- Esta data é muito relevante para a avicultura brasileira, visto que um programa de sanidade avícola bem estruturado proporciona melhores diretrizes para a cadeia atuar, tanto no que diz respeito a inciativa privada quanto ao serviço veterinário oficial (SVO). A avicultura é muito dinâmica e precisa ter uma base legal robusta e atualizada visando salvaguardar o plantel nacional mantendo nossa sustentabilidade e competitividade perante os demais mercados.

Fundesa – Qual a relação que se pode fazer entre a realidade brasileira na época da criação do PNSA e a atual? A globalização, que promoveu o crescimento do setor também trouxe novos desafios?

Flávia –A avicultura nacional cresceu e se tecnificou bastante desde a criação do PNSA, se expandindo também para novos estados, demandando maior atenção do SVO, cujo papel principal é chancelar a sanidade das aves e seus produtos. Sem dúvidas a globalização tem sido um fator crucial, especialmente no que diz respeito à facilidade de deslocamento entre pessoas e animais, trazendo preocupações em relação à facilidade de transmissão de enfermidades. Neste sentido sempre orientamos que não se permita a entrada de pessoas alheias ao processo produtivo dentro dos estabelecimentos avícolas, pois esta é uma forma de transmissão de diversos agentes patogênicos, visto que o visitante pode ter estado em um local com animais doentes, transformando-se em carreador de uma enfermidade para dentro da granja.

Fundesa- Em comparação com outros países produtores, como você avalia o sistema brasileiro de defesa sanitária para a avicultura? Somos bons? Há o que melhorar?

Flávia – Creio que temos um sistema de defesa sanitária bem alicerçado que segue o preconizado pelas instituições de referência mundial, como a OIE. Sempre é importante avaliar o que estamos fazendo e como estamos fazendo, pois sempre existem pontos a serem melhorados, mas percebo que realizamos um bom trabalho em nosso país, mesmo com todas as diferenças culturais e sociais que temos, respeitando as particularidades de cada região. Neste momento penso que um ponto fundamental de melhoria na nossa atividade de defesa é fazer com que os sistemas de emissão de Guias de Trânsito Animal “conversem” entre si, pois desta forma evitaremos o trânsito de animais para propriedades que não possuam cadastro no SVO ou que estejam com bloqueio sanitário, por exemplo. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento existe uma ferramenta, denominada PGA, que fará essa função, porém até hoje não está implementada de fato.

Fundesa- Qual o papel do produtor neste contexto de sanidade? Ele está ciente de conceitos como responsabilidade compartilhada?

Flávia – O papel do produtor na manutenção da sanidade dos plantéis avícolas é fundamental, pois não se pode fazer defesa sanitária sem a colaboração daqueles que estão diariamente em contato com as aves. Cada vez mais se fala em responsabilidades compartilhadas no sentido de somarmos esforços para juntos buscarmos um produto saudável e seguro, produzido de forma adequada, respeitando o bem-estar animal e evitando o uso indiscriminado de antimicrobianos. O produtor deve compreender que seu papel é fundamental na defesa sanitária, pois ao constatar qualquer situação clínica compatível com as enfermidades de controle oficial ou mortalidade atípica imediatamente deverá notificar a autoridade sanitária, a quem compete verificar e estabelecer se a causa da notificação requer atenção especial por parte do SVO ou se está dentro das ocorrências normais da atividade. A demora na constatação e na implementação de ações num caso de suspeita de doença de Newcastle, por exemplo, poderá dificultar o controle da enfermidade, trazendo prejuízos ainda maiores para o setor. Quanto antes uma enfermidade desta magnitude for detectada, mais rápido poderemos agir visando seu controle.

Fundesa – Quais os próximos passos? Desafios?

Flávia – Atender a cadeia avícola é um desafio por si só, devido a sua dinâmica. Tudo acontece de forma rápida e cadenciada, e todos os elos deverão estar interligados e funcionando bem, e nosso desafio é conseguir acompanhar esta velocidade. Manter os fiscais estaduais agropecuários atualizados e motivados para atender as demandas da cadeia, mesmo frente a tantos outros programas sanitários sob sua responsabilidade também é uma equação que procuramos resolver diariamente. Tecnificar e modernizar alguns procedimentos do nosso dia-a-dia, especialmente no que se refere a trâmites burocráticos é um desejo e um desafio para os próximos tempos. Facilitar a tramitação das informações entre a ponta (Inspetoria de Defesa Agropecuária) e o Nível Central é um dos objetivos a curto ou médio prazo.

Fundesa – O Rio Grande do Sul se destaca de alguma forma no cenário nacional quando o assunto é sanidade avícola?

Flávia – O RS sem dúvidas se destaca no cenário nacional, com uma quantidade expressiva de estabelecimentos avícolas comerciais e de reprodução. Atualmente estamos com ótimos percentuais de registro dos estabelecimentos comerciais (aves de corte e postura), passando de 90%. Isso demonstra maturidade e empenho do setor em se adaptar às normativas vigentes de biosseguridade. O SVO também está sempre atuando nas notificações de mortalidades atípicas e doenças contempladas no PNSA, e estas atividades geram documentos auditáveis que demonstram a sensibilidade do nosso serviço em estar presente nas ocorrências sanitárias do plantel avícola do estado.

Fundesa – Um evento, no Espírito Santo, tratou sobre os 25 anos do PNSA, fale um pouco sobre isso.

Flávia – O evento contou com a presença de representantes do Serviço Veterinário Federal e Estadual de 23 estados da federação e Distrito Federal, num total de cerca de 70 participantes. Os palestrantes foram servidores do MAPA e também professores com renomada atuação na área de sanidade avícola, mais especificamente biosseguridade, salmonelas e bem-estar animal.

A presença de servidores de outros estados nos proporcionou uma troca interessante de experiências e também um alinhamento de ações e perspectivas para o futuro do PNSA. Diversas legislações foram debatidas, seus entraves e propostas de soluções, ficando a proposta de que grupos de trabalho se responsabilizem por modificar as mesmas, visando atualizá-las conforme as demandas tanto do SVO quanto da iniciativa privada.

Fonte: Thais D’ávilia