Os postes tortos e os fios em meio ao mato em diversos locais das estradas da localidade são o retrato da precariedade das redes de energia elétrica. Mundstock conta que na última safra ficou dois dias do mês de dezembro sem energia elétrica, no ponto alto da colheita de tabaco. Cada hora de trabalho com o gerador deixa R$ 100,00 de despesa com combustível. “O lucro com a safra quase se vai todo”, afirma.
Para viabilizar a produção de ração para a alimentação das 6 mil codornas criadas por mês, o agricultor teve que trocar o quebrador elétrico de milho por outro a gasolina em consequência da qualidade da energia. “A rede aqui é monofásica e quando solicitamos a instalação da trifásica nos mandam de um lado para o outro, sem dar solução”, afirma Mundstock. Observa que todo o ano no período da colheita precisa usar o gerador. Entre os dois filhos, apenas Diego Mundstock, 34 anos, ajuda no trabalho na propriedade nas horas vagas das suas atividades profissionais. Ele mora a um quilômetro do Centro da cidade e afirma que na região também há quedas frequentes da energia elétrica.
RGE argumenta que investe em obras de modernização
Para melhorar a prestação dos serviços aos usuários, a RGE informou que tem feito investimentos em Santa Cruz do Sul e prosseguirá com este trabalho em 2019. Em 2018, por exemplo, a concessionária aplicou R$ 10,94 milhões em obras de modernização da rede elétrica do município, substituiu 1.259 postes de madeira por concreto e construiu 14,2 quilômetros de rede nova composta por condutores mais modernos e de maior capacidade. O mesmo esforço tem sido colocado em prática em outros municípios, como Candelária, onde a RGE investiu R$ 2,72 milhões no ano passado e trocou 404 postes de madeira por concreto.
A concessionária também trabalha em melhorias na rede de Quarta Linha Nova Alta. A localidade há pouco tempo sofria com as frequentes quedas de energia e a demora para o conserto. No município de Herveiras, uma reunião ocorreu no dia 28 de abril, no salão da Comunidade Católica de Linha Fernandes, entre representantes da RGE e a comunidade para tratar sobre a poda da vegetação nas áreas das linhas e redes elétricas.
Falta de manutenção fragiliza as redes
Responsável pelo pontapé na articulação para buscar melhorias na rede de energia em Candelária, o produtor rural Ênio Hübner, de 75 anos, afirma que algumas vezes moradores da região de Linha Passa Sete passam uma semana sem o serviço. Os dois sindicatos que representam os agricultores, prefeito e vereadores encamparam a ideia e uma comitiva participou no dia 11 de abril da audiência pública conjunta das comissões de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, de Segurança e Serviços Públicos e de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa para tratar da qualidade da energia elétrica no Estado. “É um castigo ficar tanto tempo sem luz”, comenta Hübner. Lembra que no período que a CEEE era responsável pelo serviço havia funcionários na cidade e as equipes solucionavam a queda de postes, por exemplo, no mesmo dia, mesmo nos fins de semana.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária, Juarez da Rosa Cândido, explica que alguns produtores investiram na compra de geradores, mas o uso eleva consideravelmente o custo de produção. Observa que a falta de energia em períodos de colheita do tabaco causa transtornos, pois as estufas em diversas propriedades são elétricas. Afirma que o serviço é diferente na área onde a Celetro é a responsável pelas redes elétricas. “O atendimento deles é de primeira”, explica.
Desestímulo
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária, Juarez da Rosa Cândido, defende que as melhorias nos serviços de energia e comunicação são decisivas para a permanência dos jovens no campo. “Hoje falam muito na necessidade de investimentos nas propriedades para melhorar a qualidade da produção, mas a grande maioria sequer têm rede elétrica trifásica, apenas a monofásica”, lamenta.
O presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, também afirma que os problemas desestimulam a permanência dos jovens na área rural, pois impedem melhorias no trabalho. Silva não vê perspectivas de mudança na situação enquanto não houver alterações na legislação. “É preciso estabelecer penalidades mais severas para as distribuidoras. Elas só veem os direitos, mas não os deveres, pois se o usuário deixar de pagar a conta, logo cortam o fornecimento da energia, mas a mesma agilidade não existe para solucionar os problemas”, destaca.
Por: GAZETA DO SUL – SANTA CRUZ DO SUL