Quais as novas opções de derivados da cana-de-açúcar?

Uma das culturas agrícolas mais antigas e importantes do Brasil está em franco processo de reinvenção. Atualmente, a cana-de-açúcar oferece para a sociedade produtos altamente sustentáveis, além dos já tradicionais etanol e açúcar. Diante desse cenário já é consenso entre produtores que os derivados da cana-de-açúcar vão muito além destes dois produtos, como explica Dib Nunes Jr., CEO do Grupo IDEA:

“A cana-de-açúcar é uma matéria-prima bastante flexível. Com ela é possível fazer desde os seus produtos mais conhecidos, como o açúcar e o etanol, como alternativas para indústrias mais poluentes, como o plástico biodegradável”.

“A cana-de-açúcar está só começando a entregar tudo que tem a oferecer”, complementa Antônio de Pádua Rodrigues, Diretor Técnico da UNICA (União da Industria da Cana-de-açúcar).

Além do etanol e do açúcar: conheça os principais derivados da cana-de-açúcar

Assim, os principais derivados desta cultura são:

 – Bagaço: Este é um subproduto fibroso que vem da moagem. Seus usos vão desde a produção de energia através da queima, até a incorporação ao solo ou como parte integrante da dieta bovina. É utilizado na produção de etanol 2G, na produção de pellets de cana e na formação da Biomassa.

Já há também diversos estudos que utilizam a fibra do bagaço que poderá se tornar um tecido que, com o acréscimo de enzimas e fármacos, tem potencial para ser utilizado como curativo com múltiplas aplicações.

 – Vinhaça: Resíduo da destilação do caldo de cana-de-açúcar. A proporção é de 10 a 14 litros de vinhaça gerada para cada litro de etanol produzido. A vinhaça é utilizada na recuperação e fertilização do solo, agindo como um biofertilizante, e também na fabricação do biogás.

 – Melaço: Na moagem da cana é extraído um caldo, este é purificado e centrifugado até formar o melaço. Antônio Rodrigues explica que cada tonelada de cana produz de 40 a 60 kg de melaço, com este sendo usado para a fabricação de etanol e do açúcar, e também utilizado no setor alimentício e como adubo.

 – Pellets de cana: Feitos de palha e bagaço, os Pellets representam uma energia térmica renovável pertencente à classe das biomassas. A queima de pellets para a geração de energia elétrica emite 95% menos de dióxido de carbono em comparação ao carvão.

Os pellets também são um produto de exportação, oferecendo uma solução com menor impacto ambiental para outros países”, cita o diretor técnico da UNICA.

 – Açúcar líquido (chamado de xarope simples): é um adoçante natural de sacarose e água vendido principalmente para a indústria alimentícia, para ser usado na fabricação de sorvetes e bebidas. Também é destinado à indústria farmacêutica para fabricação de remédios ou em processos químicos, em detergentes e cola.

 – Óleo fúsel: Não muito conhecido, esse componente é uma mistura de alcoóis superiores, como o isoamílico e isobutílico. É obtido durante o processo de destilação do etanol. Sua aparência é amarelada, tem um odor forte e consistência viscosa.

“O óleo fúsel é usado pela indústria química, na composição de bebidas alcoólicas, cosméticos, aromatizantes artificiais e também como fixador de perfumes”, explica Rodrigues.

 – Torta de filtro: Elemento proveniente da filtração do caldo moído no filtro rotativo, na produção de etanol e açúcar.  Este resíduo é rico em fósforo, cálcio e vários nutrientes, sendo um fertilizante natural de alta qualidade, que, assim como a vinhaça, é usado nos canaviais para a recuperação e a fertilização do solo.

Biogás: Importante derivado da cana-de-açúcar

Nos últimos anos, o setor sucroenergético ter sofrido muito com os altos e baixos dos preços do açúcar e do etanol, enquanto os preços da energia elétrica têm oscilado ao sabor das condições climáticas.

Diante desse cenário, Nunes acredita que o produto derivado da cana que surge com maior força, apresentando ótima viabilidade técnico-econômica é o Biogás, produzido com resíduos tanto da área agrícola como da indústria, tais como o bagaço, a palha, a vinhaça e a torta de filtro.

Ainda de acordo com CEO do Grupo IDEA, o biogás pode ser vendido como substituto do gás natural de uso doméstico ou industrial nas cidades da região onde a usina se encontra. “O que era resíduo e tinha um custo de descarte ou até de reaproveitamento, acaba virando um terceiro produto de comercialização”, explica.

Em 2019, foram gerados para o Sistema Interligado Nacional (SIN) 22 mil GWh, um crescimento de 2% em relação a 2018, segundo informações do diretor da UNICA.

“Esse número pode aumentar muito, pois somente 15% do potencial atual é utilizado. Seria possível multiplicar esse número em até sete vezes sem ampliar a área plantada, o que atenderia 30% da demanda brasileira” completa Rodrigues.

Renovabio: oportunidade para as usinas de cana usarem seus derivados

Com a implantação do RenovaBio, há uma grande oportunidade de crescimento de todos os mercados de resíduos/derivados da cana, já que a produção, essencialmente de etanol, tende a aumentar para atender as metas anuais de descarbonização.

Estima-se que a produção de etanol deve quase dobrar até 2030, passando dos atuais 27 bilhões de litros para cerca de 50 bilhões de litros de etanol por ano. “Com esse patamar de produção, praticamente também se dobrará a produção de vinhaça e de todos os outros derivados, abrindo muitas oportunidades ao setor”, opina Rodrigues.

Mas para que isso se concretize, Rodriguez diz ser necessário o desenvolvimento de políticas públicas em paralelo com as iniciativas pontuais de inovações de alguns grupos do setor.

“Com essas políticas teremos também incentivo para todas essas ações”, finaliza o diretor técnico da UNICA.

Fonte: Agrishow