Redução de perdas: cuidados na colheita e no armazenamento de algodão 

Por*MARLUCE CORRÊA RIBEIRO

Em um cenário de mercado aquecido para a cultura do algodão, o Brasil está entre os maiores produtores do mundo e ocupa o posto de 2º maior exportador. Mas quais são os riscos que envolvem este cultivo e como é possível reduzir as perdas no processo produtivo e na armazenagem? 

Se você pensa que os cuidados minuciosos com a cultura do algodão se limitam ao tempo em que a cultura está em campo, você está muito enganado. Você já se perguntou, por exemplo, como é realizada a colheita e o controle de perdas quantitativas e qualitativas neste processo? Já imaginou como deve ser realizado o armazenamento deste algodão? Conhece as formas de armazenamento do algodão em pluma e em caroço? Continue sua leitura e entenda diversos pontos que merecem sua atenção enquanto técnico (a) ou produtor (a).

Segundo o primeiro levantamento da Conab para a safra 21/22, a perspectiva inicial de área plantada para a cultura do algodão é de um aumento de 10,2%, em relação a safra anterior. Já para a produtividade, o aumento esperado é de 3,1%, totalizando uma produção de 2,67 milhões de toneladas, 13,7% acima do produzido na safra 20/21. O produto possui uma grande importância socioeconômica no Brasil, que está entre os 5 maiores produtores de algodão do mundo. E é o segundo maior exportador da fibra, ficando atrás apenas dos EUA.

O mercado de algodão, aquecido em nível nacional e internacional, apresentou um comportamento de alta no mês passado. Segundo a Conab, no mercado internacional, os preços da pluma dispararam durante o mês de outubro. Problemas climáticos nos EUA e na Índia, juntamente com a menor oferta na safra brasileira 2020/2021 e a recuperação da demanda mundial, inclusive da China, contribuíram para este cenário de preços muito elevados internacionalmente. Tendência semelhante ao que vem se desenhando no mercado interno.

Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o cenário mundial para a safra 21/22 é uma menor oferta e aumento no consumo de algodão, mostrando uma tendência de déficit entre oferta e demanda global.

Esta significativa alta do mercado vem acompanhada de uma exigência constante pela qualidade da fibra que será destinada à indústria têxtil. Além do manejo em campo durante todo o ciclo da cultura, a colheita e o armazenamento são fases extremamente importantes para a manutenção da qualidade do produto. Afinal, é preciso garantir algodão em quantidade e qualidade para atender este crescente e exigente mercado consumidor. E tudo isso começa com um manejo adequado e seguro desde o campo.

Tipos de perdas na cultura do algodão 

Além de todo o manejo durante o ciclo da cultura do algodão, a colheita cautelosa faz toda a diferença para a qualidade da fibra e para o sucesso da lavoura. Alguns erros que podemos citar na colheita mecanizada do algodão são: velocidade inadequada da colheitadeira; presença de plantas daninhas na área; altura das plantas; erro na utilização de desfolhantes; e a falta de sistemas de contenção de incêndios, por exemplo.

Todos estes fatores geram perdas significativas para a qualidade e a produtividade da lavoura. Estas perdas podem ser divididas em quantitativas e qualitativas. As quantitativas são aquelas contabilizadas pelo algodão que cai no solo por conta da velocidade da máquina ou algum manejo inadequado no ponto de colheita, por exemplo, e não pode ser apanhado pela colheitadeira. Já as qualitativas são relacionadas à qualidade da fibra prejudicada por fatores importantes como teor de umidade do algodão no momento da colheita; coloração e impurezas na fibra devido à poeira; maturação inadequada; entre outras inúmeras possíveis perdas.

Há também aquelas perdas menos comuns, mas que podem ocorrer por conta de fenômenos inesperados, como: intempéries climáticas (secas prolongadas, alagamentos, chuvas em excesso…) ou ainda incêndios e algum outro acidente que fatalmente comprometa a produção ainda em campo ou no momento da colheita, e até mesmo no armazenamento. E é justamente sobre estas perdas que nós iremos falar mais adiante.

Colhi o algodão! E agora? 

O algodão é uma cultura que possui um manejo muito específico tanto em campo quanto na pós-colheita. O armazenamento, por exemplo, é diferenciado, tanto em pluma quanto em caroço. Continue sua leitura e entenda o porquê.

No caso do algodão que será armazenado em caroço, é preciso uma atenção especial com impurezas, que é indesejável para a indústria têxtil, pois dificulta o beneficiamento e pode gerar, inclusive, uma redução no preço final do fardo porque pode prejudicar o comprimento, uniformidade e índice de fibras curtas. Por isso, é preciso armazenar este algodão em local seco, limpo, arejado e protegido do acesso de animais e livre da umidade.

As mesmas exigências se aplicam ao armazém do algodão em pluma, que além destas exigências, precisa respeitar algumas outras recomendações para garantia da qualidade e segurança deste material. As pilhas dos fardos precisam ser todas posicionadas com fácil movimentação e segurança das pessoas que por ali transitam; os fardos devem ser posicionados sobre estrados de madeira; há um limite de fardos e peso por armazém; e o local deve ter portas corta-fogo em todas as vias de acesso.

Os fardos não podem estar em contato direto com o chão para evitar o processo de fermentação caso entre em contato com a umidade do piso, a chamada cavitomia. Esta fermentação libera calor, eleva a temperatura do fardo e a fibra pode entrar em combustão, originando fogo. Algumas outras recomendações são feitas para depósitos de algodão em pluma, como: garantir a umidade do ar e temperatura adequadas durante o processo de estocagem; não pode haver nenhum tipo de instalação elétrica, nem lâmpada ou tomadas; e é proibido fumar ou usar telefone celular no interior do depósito. Todas estas medidas têm em vista a segurança do produto armazenado que possui alto risco de incêndio.

Segurança no campo e no armazém 

Como já vimos, há um alto risco, principalmente de incêndios, envolvendo a cultura do algodão. Por isso, desde o campo, é preciso estar atento a algumas medidas de segurança, como possuir um sistema de contenção de incêndios, tendo em vista que a alta temperatura em campo e a baixa umidade das plumas potencializam o risco de incêndios. Outra alternativa que garante maior segurança e tranquilidade para o produtor é a contratação de seguro, seja ele agrícola ou patrimonial. A escolha e indicação da modalidade vai depender daquilo que o produtor precisa e que se adeque à sua realidade.

Uma cultura como o algodão, com altíssimo investimento por hectare, precisa ter segurança garantida quanto a eventos climáticos, incêndios ou algo do tipo. E para este fim, você, produtora e produtor, pode buscar uma modalidade de seguro que se adeque à sua realidade tanto durante o ciclo da cultura, quanto na pós-colheita. Com a cultura instalada, você pode buscar algum formato de seguro agrícola. Quando esse produto vai para o armazém, outras modalidades de seguro passam a ser uma boa alternativa. É o caso dos seguros patrimoniais ou de benfeitorias, por exemplo.

Independentemente da modalidade, fato é que os seguros são uma importante ferramenta para que você produtor possa garantir mais confiança e segurança em seus investimentos, afinal, a garantia de altas produtividades passam por uma safra segura.

*MARLUCE CORRÊA RIBEIRO, Filha de produtores rurais, técnica em agropecuária, jornalista e estudante de Agronomia.

Fontes: ConabSiagri e Aegro