Rodrigo Maia é eleito presidente da Câmara e promete pacificar plenário

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito na madrugada desta quinta-feira novo presidente da Câmara dos Deputados para suceder o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e dar fim à instabilidade causada nos trabalhos da Casa pelas idas e vindas sob a interinidade do primeiro vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA).

À frente da Câmara, Maia terá um mandato-tampão até fevereiro de 2017 com alguns desafios à vista. O deputado, visto com bons olhos pelo governo do presidente interino Michel Temer, com quem tem bom trânsito, será responsável por tocar uma pauta nada consensual na Casa, justamente em um momento em que o ritmo legislativo tende a diminuir.

“Temos muito trabalho a fazer, temos que pacificar esse plenário, dialogar, temos uma pauta do governo que é importante, sim, mas temos também a pauta da sociedade”, disse o deputado ao ser empossado.

O Planalto tem interesse na votação de matérias prioritárias, como a proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos, a proposta que trata da renegociação da dívida dos Estados com a União, e ainda possíveis alterações na Previdência Social e na legislação trabalhista.

Para que essas propostas avancem, no entanto, é necessário não apenas vontade política, mas o esforço efetivo do novo presidente da Casa para pautar as matérias e garantir a presença dos deputados nos próximos meses, em meio a Jogos Olímpicos e eleições municipais.

Outro tema espinhoso que ficará sob a responsabilidade de Maia é o processo de cassação de Cunha.

Antes de seguir para o plenário da Câmara, o caso ainda aguarda deliberação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde corre um recurso de Cunha contra decisão do Conselho de Ética que deu seguimento a um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar.

No segundo turno da eleição de quarta-feira, que só terminou na madrugada desta quinta, Maia venceu por 285 votos a 170 Rogério Rosso (PSD-DF), nome ligado ao centrão –bloco formado por parlamentares de mais de 10 partidos– e tido como próximo a Cunha.

Quando o resultado da eleição apareceu no painel do plenário da Câmara, um grupo de parlamentares gritou “fora Cunha”, numa demonstração da rejeição ao deputado afastado.

Maia, inclusive, capitalizou esse sentimento para vencer a eleição, recebendo apoio formal de partidos da nova oposição, como PCdoB e PDT, que ainda apoiam a presidente afastada Dilma Rousseff.

A eleição de Maia, de 46 anos e filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia, deve pôr fim a um período de sobressaltos vivido pela Câmara durante a gestão interina de Maranhão. O vice-presidente da Casa foi o responsável por decisão que anulou o processo de impeachment de Dilma e, horas depois, mudou de ideia e cancelou o ato anterior.

Maranhão também foi autor de decisão que cancelou algumas vezes a ordem do dia da Casa, justamente quando nutria-se a expectativa de votações importantes.

Ao se despedir do comando da Câmara, em discurso pouco antes do primeiro turno de votação, Maranhão afirmou que exerceu a interinidade com “honestidade e honradez”.

“Procurei em todos os atos que pratiquei seguir estritamente o regimento da Casa”, disse o deputado.

“Deixo esta presidência sem mágoas e rancores, e com a consciência limpa e tranquila. Continuarei no exercício da vice-presidência prestando lealdade ao meu Estado e ao nosso país.”

DESIDRATADA

Embora o Palácio do Planalto tenha declarado oficialmente que se manteria alheio à disputa, acabou atuando para influenciar o resultado quando percebeu o crescimento da candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI) –que até a véspera sustentava apenas uma candidatura avulsa. O Planalto mobilizou-se para desidratar o peemedebista.

Enquanto Rosso caía nas graças do governo ao colocar sua candidatura sob o discurso da estabilidade e da governabilidade, e Maia angariava votos daqueles que se sentiam desconfortáveis em apoiar um candidato tido como próximo de Cunha, Castro viu sua postulação crescer quando ganhou o apoio oficial da bancada do PMDB.

Também contava com a simpatia de seus pares e de parte da nova oposição, justamente por ter se posicionado contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Castro, no entanto, acabou conquistando 70 votos no primeiro turno e, na terceira posição, não foi a uma nova rodada de votação.

Mesmo antes do resultado, o Planalto não encarava como derrota a possibilidade de eleição de Maia, integrante de sua base de sustentação e parlamentar com bom trânsito junto a Temer mesmo quando ambos atuavam em campos políticos opostos.

Ainda que tenha conquistado uma vitória ao garantir um aliado na presidência da Câmara, o governo pode se deparar com sequelas da disputa pelo posto, que contou com 13 candidatos, muitos deles da base.

Além disso, resta para o governo lidar com eventuais sequelas da derrota imposta ao candidato escolhido pela bancada do PMDB, partido de Temer, e algumas divergências no centrão.

(Reportagem adicional de Eduardo Simões)

Fonte: Reuters