Serviços inteligentes e neoindustrialização em debate no 14º Enaserv

O setor de serviços é um dos mais atrativos para os investidores estrangeiros que buscam investir no Brasil, principalmente pela possibilidade de acoplagem desses serviços a outros segmentos que são tradicionais na economia brasileira e têm muita competitividade: agronegócio, mineração e petróleo e gás. A opinião é da diretora de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Ana Paula Repezza, palestrante do 14º Encontro Nacional de Comércio Exterior de Serviços (Enaserv), no auditório da Fecomércio SP, ontem, uma realização da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Ana Paula citou a transição energética como uma oportunidade para que empresas tradicionais possam descarbonizar suas cadeias produtivas para sobreviver no mercado internacional, especialmente Europa e Estados Unidos, cada vez mais comprometidos com sustentabilidade. “A solução para descarbonização passa pelo setor de serviços. Os serviços mais complexos, inteligentes, que permitam aos setores tradicionais ampliarem a sua sustentabilidade”, garantiu.

Sobre a desindustrialização precoce que o Brasil sofreu nas últimas décadas, Ana Paula explicou que em países desenvolvidos, há uma preponderância maior de serviços em setores tradicionais como agricultura e indústria, mas são serviços complexos, modernos. Nesses países, houve encolhimento da indústria que foi substituído pelo crescimento de um serviço de alto valor agregado, totalmente intensivo em conhecimento, de base tecnológica, que retroalimenta a indústria.

“Não foi o que ocorreu no Brasil e na América Latina. Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que a redução do setor industrial não foi substituída proporcionalmente por serviços de alto valor agregado. Temos serviços menos complexos no Brasil, que são importantes, mas têm uma capacidade exportadora inferior e agregam menor valor, por isso geram menos competitividade”, afirmou a executiva.

Para Ana Paula, o nosso desafio é recuperar a indústria ao mesmo tempo que estimulamos o crescimento e o fortalecimento de serviços de alto valor agregado (desenvolvimento de softwares, inteligência artificial, georreferenciamento e outros). E isso só pode ser feito de maneira coordenada com diferentes atores, das esferas pública e privada. “Do ponto de vista da APEX, estamos reforçando nossas ações no segmento de serviços com maior qualificação, temos desenvolvidos programas com startups, cuja inovação pode ser aplicada à indústria rapidamente. Temos parcerias com outras instituições para desenvolver mais startups, atraindo investimentos estrangeiros para ela”, concluiu.

Setor aeronáutico

O Enaserv contou com a apresentação de cases de sucesso que serviram de inspiração e aprendizagem para empresários e executivos. Como a história da GE Celma, que até 2002 era uma empresa totalmente doméstica, que teve Vasp, Varig e Transbrasil no portfólio. Segundo o diretor de Supply Chain da companhia, Ricardo Keiper, a virada de chave veio em um momento de crise: o atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro do ano anterior. Com as saídas das companhias aéreas brasileiras do mercado, a empresa teve que reduzir a equipe e buscar no exterior formas de sobreviver.

Apostando na logística door-to-door e com a promessa de entregar as turbinas em até 40 dias antes do que a concorrência para qualquer parte do mundo, a GE Celma alavancou os negócios. Atualmente, mais de 500 mil pessoas voam, por dia, em aviões revisados nas oficinas da Celma em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Com 8 mil aeronaves espalhadas por mais de 100 países em todo o mundo, a Embraer iniciou ainda na década de 70 a internacionalização da marca e tem até hoje sua estratégia voltada para o mercado exterior. Um dos maiores conglomerados aeroespaciais do mundo, a empresa possui 210 técnicos de campo, 92 simuladores de voo, 83 centros de serviços autorizados. A gerente de Relações Institucionais da Embraer, Juliana Villano, destacou a importância da sustentabilidade e digitalização para a manutenção da competitividade no setor.

O diretor comercial da Safran Helicopter Engines, Rodolfo Perez, pontuou que a empresa francesa de motores de helicópteros tem na oficina em Xerém, no Rio de Janeiro, um dos seus centros de excelência, onde recebem as peças para reparo e manutenção de toda a América Latina, onde contam com 590 clientes. Nos últimos 20 anos, mais de 5 mil reparações completas de motores foram concluídas.

Perez ainda destacou que uma das chaves para o sucesso da Safran foi a diversificação estratégica. A empresa havia sido criada para manutenção de motores das Forças Armadas, mas identificou no resto do mercado uma oportunidade de negócio.

Fonte: Patrícia Fernandes