Diversidade do terroir brasileiro

Diversidade do terroir brasileiro cria qualidade única de vinho e marca a história mundial da bebida

Primeira Indicação de Procedência de vinhos tropicais do mundo será brasileira. Engenheira agrônoma e sommelier comenta o impacto do reconhecimento para a produção vitivinícola brasileira

O Brasil está prestes a entrar para a história mundial do vinho com o reconhecimento da primeira Indicação de Procedência de vinhos tropicais do planeta. Em dezembro de 2020 o Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (VINHOVASF) depositou o pedido da indicação de procedência para reconhecimento junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial o (INPI). O Vale do Rio São Francisco alcançará um título que coloca todo o Brasil em destaque no mundo do vinho. A IP Vale do São Francisco está localizada no eixo Petrolina-Juazeiro, entre a Bahia e Pernambuco, na região conhecida como Submédio do Vale São Francisco.

“A IP Vale do São Francisco valoriza o Brasil, demonstrando a multiplicidade dos diferentes terriois, nos mais diversos Estados e regiões brasileiras. Não é apenas uma conquista para a região, mas para todo o país, para toda a rede vitivinicultora. A diversidade do terroir brasileiro será destaque no mundo, o que fortalecerá o Brasil como produtor de vinhos finos perante o cenário internacional”, assinala Roberta Boscato, engenheira agrônoma e sommelier da Boscato Vinhos Finos, vinícola que faz parte da IP Altos Montes, da Serra Gaúcha.

Por ser um país muito grande, o Brasil possui uma diversidade riquíssima de vinhos, conforme explica Roberta: “Os diversos terroirs do Brasil, comprovadamente, produzem diferentes tipos de vinhos. Os rótulos se diferenciam de cada IP, ou Denominação de Origem, pois são regiões com características de clima, solo, topografia, relevo e variedades de uva muito diferentes”.

Ao provar os diferentes vinhos brasileiros, é possível também conhecer um pouco sobre cada região: “Essas diferenças, enriquecem o mundo dos vinhos nacionais. Dão corpo e forma ao universo vitivinícola a ser descoberto, desbravado, a cada taça, pelos próprios brasileiros, em primeiro lugar, e sem sair de casa”, comenta. “Esperamos que logo, logo, quando houver oportunidade, nós brasileiros, possamos conhecer as regiões vitivinícolas brasileiras e as IPs do Brasil”, completa a sommelier.

O que torna a IP Vale do São Francisco tão especial?

A singularidade do seu terroir é o que chama a atenção dos enólogos: “A IP Vale do São Francisco é uma experiência única no universo enológico. A viticultura do semiárido tropical desperta curiosidade no mundo todo”, comenta Roberta.

Porém, apesar do clima tropical ser a característica diferencial da região, o que garante a qualidade do vinho é a forma de produção e cuidado com a uva, justamente, em decorrência da severidade do clima.

“A capacidade produtiva das videiras é determinada pelo manejo, e não apenas pelo clima, que é sempre seco e quente. Cada planta gera duas safras por ano, em ciclos de 120 a 190 dias, para uvas de vinho. O período de repouso das vinhas é induzido pela retirada da água de irrigação.  O solo, originário do rio São Francisco, apresenta grandes depósitos de sedimentos rochosos, sendo também arenoso.  A vegetação é da Caatinga”, explica a engenheira agrônoma, que estagiou na Empraba Semi-Árido no ano 2000, junto à Dra. Patrícia Coelho Leão, pesquisadora e referência mundial das variedades e porta-enxertos adaptados ao terroir do Semiárido brasileiro.

O Vale do Rio São Francisco corresponde a uma área de 500 hectares destinados aos vinhos finos produzidos: vinhos tranquilos, espumantes, vinho e brandy. Porém, se considerarmos a produção de uvas e vinhos de mesa, a área se amplia para 10.000 hectares.

A produção de vinhos finos dos estados da Bahia e Pernambuco está concentrada no eixo Petrolina-Juazeiro. Em Pernambuco nos municípios de: Petrolina, Casa Nova, Orocó e Santa Maria da Boa Vista. Na Bahia, nos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sobradinho e Curaçá. Que fazem parte da Rede Integrada de Desenvolvimento Econômico da região.

De acordo com Roberta, “esta região, de clima tropical semiárido, única no Brasil, apresenta temperaturas que possibilitam a produção de uvas em todos os meses do ano e entrega vinhos tropicais, com originalidade e identidade própria distinta no mundo vitivinícola”.

Fonte: Usina de Notícias