Em debate, estruturação do rebanho e centros de recria

Chamando atenção para a necessidade de uma mudança cultural no que tange a pecuária leiteira em Goiás, o engenheiro agrônomo e presidente da Cooperativa para a Inovação e Desenvolvimento da Atividade Leiteira (Cooperideal), Marcelo Rezende, ministrou palestra na manhã desta quinta-feira (14) para técnicos que trabalham com a atividade. O evento, organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), integra a programação do Encontro dos Técnicos do Goiás Mais Leite – Metodologia Balde Cheio, que segue até essa sexta-feira (15), no Augustu’s Hotel, em Goiânia.

Rezende explica que, por uma questão cultural, os produtores goianos costumam relacionar o tamanho da terra com a quantidade de animais. “Como em Goiás as propriedades são grandes é comum ver animais improdutivos ocupando os pastos. Só que isso causa um peso excessivo sob a atividade, já que na maioria dos casos o produtor não tem renda suficiente para manter essa estrutura e ainda conseguir manter uma margem de lucro razoável. Isso acaba fazendo com que ele alegue que a atividade não é rentável. O fato é que patrimônio – animais em crescimento – não dá lucro, o que dá lucro é a renda diária – animais em lactação”, explica, justificando a necessidade urgente de se discutir a estruturação do rebanho.

Marcelo apresentou dados que indicam a estrutura ideal do rebanho e apontou fatores que interferem nessa conta, como a baixa taxa de descarte, a falta de seleção de animais do rebanho, o adiamento do primeiro parto e a reprodução irregular. “O indicado é fazer uma relação entre as categorias do rebanho – vacas em lactação, vacas secas, bezerras, novilhas e machos”. Ainda segundo Rezende, a taxa de reposição tem que ser de 28% para que a de mortalidade se aproxime de zero.

Para a médica veterinária e técnica do Balde Cheio no município de Caiapônia, Raquel Ferreira, o primeiro passo para que se quebre a barreira criada pela questão cultural é separar a atividade leiteira de todas as outras, além de reunir bons argumentos para convencer o produtor de que ele tem que descartar alguns animais, “visto que o grande problema hoje em dia é a recria que dá um valor maior ao rebanho sem gerar renda”. Ela também fez questão de destacar a importância de eventos como o Encontro dos Técnicos do Goiás Mais Leite para quem trabalha com o produtor de leite. “As palestras ajudam o técnico no dia a dia, principalmente no que diz respeito ao contato com o produtor”.

Centros de recria
Segundo o coordenador do Goiás Mais Leite – Metodologia Balde Cheio, Marcos Henrique Teixeira, assim como o evento em si, a intenção de Rezende é promover a capacitação e, consequentemente, o acesso às novas formas, métodos e tecnologias referentes à área da produção leiteira. A grande novidade da palestra ficou a cargo dos centros de recria, que cuidam de toda parte fisiológica e sanitária do animal. “Enxergamos a iniciativa com bons olhos, já que hoje o produtor não tempo para se dedicarem à criação da recria”, disse.

Durante sua palestra, Marcelo Rezende exemplificou a questão dos centros de recria contando sobre sua experiência no Paraná, onde os animais eram recebidos e recriados, sendo em seguidas devolvidos aos produtores. “A intenção é diminuir na fazenda o excesso de animais que não produzem leite e que demandam investimento”, esclarece.

Segundo o técnico agropecuário e instrutor do Balde Cheio, Lucimar Henrique Pereira, é preciso que o produtor se desgarre da ideia de que as novidades são ilusões. “Ele vem de uma cultura muito antiga. Aprende com os pais e avós e sente dificuldade de confiar no que é novo, principalmente nos técnicos que muitas vezes são pessoas sem muita intimidade com a propriedade. Isso precisa mudar”.

Programa Goiás Mais Leite
O Programa Goiás Mais Leite – Metodologia Balde Cheio, desenvolvido pelo Senar Goiás tem por objetivo de difundir aos pecuaristas de leite as novas tecnologias e métodos da área de produção leiteira. E visa promover o desenvolvimento da atividade leiteira, ao utilizar como principal ferramenta a transferência da tecnologia para produtores e técnicos do campo, de entidades públicas e privadas, para que se tornem multiplicadores de conhecimento. A principal estratégia para a realização dessa disseminação é a formação de unidades demonstrativas, a fim de evidenciar a viabilidade técnicas, econômica, social e ambiental da produção intensiva de leite.