Soja: o que você precisa saber para fazer bons negócios em 2022

Demanda chinesa, crise do diesel e Plano Safra devem impactar – e muito – o produtor brasileiro este ano

O último boletim publicado em junho pela Companhia Nacional de Abastecimentos (CONAB), estimou uma safra de soja 2021/2022 em 124,2 milhões de toneladas. Apesar de alto, o valor representa uma redução de 10% em relação à temporada passada. Alguns fatores nacionais e internacionais podem explicar essa queda.

A análise do mercado da soja, a crise do Diesel em todo o mundo e as expectativas para o Plano Safra 2022 foram assuntos discutidos em mais um Papo de Agro, que contou com a participação de Carla Mendes, do portal Notícias Agrícolas, e de Ronaldo Fernandes, da Royal Rural, empresa de consultoria e análise de commodities agrícolas.

Últimas semanas foram “sangrentas” para a soja

Muitos fatores têm contribuído para uma queda geral nos preços da soja no mercado mundial, mas dois deles são os principais: o aumento da produção dos estoques finais dos Estados Unidos e o fator baixista que vem da China, por conta da volta do lockdown pelo Coronavírus em Xangai no início deste ano. Os chineses são os maiores compradores de soja do Brasil e do mundo, mas tiveram que reduzir suas compras nos últimos meses. “As últimas semanas foram sangrentas para a soja. Houve quedas expressivas no grão e em derivados, como óleo e farelo. Não foram semanas agradáveis para os produtores de grãos”, destaca Carla Mendes.

Sobre a questão chinesa, Ronaldo complementa: “Por conta desses fatores citados, os movimentos de porto são menores ainda e tudo isso impacta no consumo chinês. A soja é o maior ponto inflacionário para a China, se sobe o preço da soja, a inflação será grande por lá. Ainda assim, diante dessa demanda sempre agressiva dos chineses, o cenário deve ser de estoques baixos”.

O que assusta o produtor brasileiro?

O momento atual é de um verdadeiro dilema para o produtor rural brasileiro e existem duas preocupações que o cercam: a disputa entre venda de soja e milho é uma questão nesta safra, já que os produtores ainda possuem estoques de soja remanescentes da safra passada para serem vendidos e vão começar logo a vender o milho da safrinha.

A principal dor de cabeça, porém, vem dos custos de produção para a próxima safra 2022/2023, que trará uma elevação nos preços de insumos, como fertilizantes e defensivos. “Teremos, provavelmente, a safra mais cara da história para o produtor, e aí precisamos entender como será o comportamento dele, se ele irá reduzir a adubação ou buscar outros pacotes tecnológicos para aplicar na lavoura”, complementa Carla Mendes.

Vai faltar Diesel no mundo?

Outro fator que vem preocupando os mercados globais é a crise do Diesel. Para Ronaldo Fernandes, a possibilidade de escassez é provável e alguns países já estão sofrendo com isso. “Existem dois cenários possíveis: é possível que, por conta de uma margem apertada de preços, a própria demanda pelo diesel comece a diminuir. Mas, infelizmente, não temos capacidade para refinar o petróleo e também não temos como migrar para a energia limpa da noite para o dia, então hoje pode faltar petróleo fino e o quadro da escassez é muito provável”.

Expectativas para o Plano Safra

Todos os produtores rurais estão ansiosos pela liberação do Plano Safra deste ano. Segundo as últimas declarações do ministro da agricultura Marcos Montes, o governo deve disponibilizar um valor recorde de crédito para os produtores em 2022, mas, por conta de tantos problemas econômicos internos e externos, a taxa de juros será mais “ardida” que a dos anos anteriores, segundo declarações do próprio ministro. “Com uma taxa selic a 13,2% ao ano, o juros será ajustado a ela e, portanto, vai sair caro para o produtor rural”, alerta Ronaldo.

Apesar de valores mais altos para o produtor este ano, o aumento da taxa de juros foi uma tática do governo brasileiro para tentar controlar a inflação elevada no país. “O Brasil foi um dos primeiros países no mundo a tentar controlar a inflação elevando taxas de juros. Então, para o Plano Safra, não tem como sair um valor tão barato mesmo”, diz Carla.

Fonte: Agrobid