Vale a pena saber – Uso de hormônio no frango, um grande mito brasileiro

Quando o assunto é sobre a qualidade do alimento colocado à mesa do brasileiro, especialmente aquele produzido aqui mesmo, o que não falta é técnico/sanitarista ou “especialistas” para alardear com este ou aquele problema. Se fizermos um revisitação no passado veremos que cada período teve um ‘monstro’ na mesa do brasileiro e por incrível que pareça, até agora não tivemos as mortes em cascata que os horrores imprimem.

Atualmente um dos assuntos mais debatidos é o uso de defensivos agrícolas, ou veneno, ou agrotóxico ou remédios para as plantas, o que na verdade é, pois quando nós somos medicados para que o produto ataque algum vírus ou bactéria em nosso organissmo usamos remédios. Lá na lavoura não é diferente.

Em 2014 o jornalista Gustavo Simon fez uma longa abordagem para o jornal Folha de São Paulo e nós, do Sucesso no Campo, trazemos na íntegra a seguir. Vale a pena a leitura.

GUSTAVO SIMON – DE SÃO PAULO, em  28/05/2014  02h01

É mito ou verdade que o frango que consumimos no Brasil tem hormônio? Mito, dizem os especialistas ouvidos pela Folha.

A polêmica voltou à tona em fevereiro, quando avicultores foram autorizados pelo Ministério da Agricultura a estampar no rótulo de frangos a frase “sem uso de hormônio, como estabelece a legislação brasileira”.

De fato, a lei veta uso de hormônio desde 2004. “Além de ser ilegal, diversos estudos já mostraram que não existem vantagens técnicas e econômicas”, diz Gerson Scheuermann, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.

Mas é verdade que o bicho cresce mais –e muito mais rapidamente– do que há 30 anos. E isso não se deve a hormônios, e sim ao melhoramento genético.

Frangos com peito desenvolvido, por exemplo, são selecionados e usados para reprodução de forma que a geração seguinte tenha o peito mais carnudo. O mesmo vale para os animais com maior apetite –comem mais e crescem mais.

“Não traz riscos a humanos, mas precisa de aperfeiçoamento constante, pois pode causar problema nas aves”, diz Ariel Mendes, diretor da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Geneticistas já observaram, em diferentes épocas, aumento de casos de síndrome de morte súbita e de problemas nas patas de frangos de corte, prejudicadas pelo sobrepeso do animal.

STATUS À MESA

Embalado por esse “mito do hormônio” e por um abate industrial –o Brasil é o terceiro maior produtor mundial–, o frango perdeu o status à mesa.

Quando chegou ao Brasil, trazido pelos portugueses, a ave honrou a tradição europeia: era prato de festa, predileção da nobreza.

Hoje, no entanto, quando o país abate 6 bilhões de aves por ano –e cada brasileiro come 45 kg de frango ao ano– são exceções os consumidores que lhe dão valor à mesa.

“A produção em larga escala, no Brasil, fez o frango perder a nobreza –e um pouco do sabor”, diz Ricardo Maranhão, autor do livro “O Frango – História e Gastronomia” e pesquisador da Universidade Anhembi Morumbi.

Edrey Momo, sócio do Tasca da Esquina, completa: “O frango era uma iguaria; hoje, está descaracterizado”.

No supermercado, é possível encontrar quatro tipos de frango, criados de diferentes maneiras (com as aves soltas ou confinadas, alimentadas com ração ou livremente, com ou sem antibióticos).

A despeito de variações de textura e sabor, cozinheiros dizem que o frango de granja tem, sim, qualidade. Temperos e tempo certo de cocção garantem gosto e suculência.

O CONSUMO DE FRANGO NO BRASIL

  • Cerca de 45 kgper capita por ano (três vezes o que se consumia há 20 anos)
  • 8 kg a mais do que o consumo de carne bovina (37 kg)
  • 3,2 vezes o consumo de carne suína (14 kg)
  • 5 vezes o consumo de peixes (9 kg)

CONHEÇA AS DIFERENÇAS DOS FRANGOS CRIADOS NO PAÍS

Industrializado

  • Tem o peito mais desenvolvido. Pouco gorduroso, de carne macia, bem branca e de sabor suave
  • Como é criado? Confinado, em áreas com 15 aves por m²
  • De que se alimenta? Ração de milho e soja; recebe antibióticos para prevenção e tratamento de doenças
  • Quando é abatido? Com 45 dias e até 3 kg

Orgânico

  • De carne branca, como a do frango de granja, mas com sabor mais acentuado; também é um pouco menor, em tamanho e peso
  • Como é criado? Confinado, mas com acesso a piquetes (área de pastejo), com 10 aves por m²
  • De que se alimenta? Apenas milho e soja de origem orgânica; pode receber antibióticos para tratamento
  • Quando é abatido? Com 70 dias e 2,5 kg
  • Criação 50% mais caro do que a do industrializado

Caipira

  • Como anda livremente, desenvolve mais fibras musculares, que deixam a carne avermelhada e firme. A alimentação livre resulta em sabor mais acentuado
  • Como é criado? Livre, com 2 aves por m²
  • De que se alimenta? Ração, mas também pode comer capim e pedriscos; só recebe antibióticos para tratamento
  • Quando é abatido? Com 70 dias e 2,5 kg
  • Criação 25% mais caro do que a do industrializado

Sem antibióticos

  • Semelhante ao frango de granja, apesar de um pouco menor e de crescimento mais lento; carne tenra, de sabor suave e cor clara
  • Como é criado? Confinado, sem acesso a piquetes, com 12 aves por m²
  • De que se alimenta? Só ração; não recebe antibióticos (em caso de doença, é tratado com fitoterápicos e probióticos)
  • Quando é abatido? Com 45 dias e 2,5 kg
  • Criação 7% mais caro do que a do industrializado

Observações importantes:

  • O número de aves por m² e a idade e o tamanho de abate podem variar;
  •  Fontes: Antônio Gilberto Bertechini (zootecnista), Ariel Mendes (Associação Brasileira de Proteína Animal), Gerson Scheuermann (Embrapa Suínos e Aves) e Luiz Demattê (diretor industrial da Korin)

Fonte/Créedito: Folha Por Gustavo Simon, em 2014